Psiquiatras da USP de Ribeirão Preto fizeram teste em 30 pacientes; grupo tratado teve melhora dos sintomas
Psiquiatras brasileiros e ingleses estão testando o uso de um antibiótico para o tratamento de pessoas com esquizofrenia.
A minociclina, receitada para o tratamento de acne, tem propriedades anti-inflamatórias e protetoras do cérebro, segundo Jaime Hallak, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto que vem conduzindo pesquisas com a droga.
No Brasil, 30 pacientes participaram de um estudo com o remédio. Nas pesquisas internacionais, na Inglaterra e no Paquistão, diz o psiquiatra, foram cerca de 170.
Hallak conta que a ideia de usar um antibiótico contra o transtorno mental, que afeta 1% da população, veio de estudos com animais que demonstraram uma ação neuroprotetora da minociclina.
“O antibiótico foi então testado contra doenças neurodegenerativas, mas percebeu-se que os pacientes com sintomas psicóticos também acabavam melhorando.”
Os 30 participantes brasileiros tinham o diagnóstico de esquizofrenia há no máximo cinco anos e faziam tratamento com diversas drogas antipsicóticas. O antibiótico foi acrescentado à terapia de parte do grupo. A outra serviu como controle.
Segundo Hallak, observou-se uma melhora nos sintomas do transtorno. A esquizofrenia é caracterizada por diferentes sintomas: psicóticos (ouvir vozes e ter delírios, por exemplo), dificuldades cognitivas e de vocabulário e falta de motivação e de interesse em relações pessoais.
Helio Elkis, coordenador do Projesq (Projeto Esquizofrenia) do Instituto de Psiquiatria da USP, diz que o principal ganho com o antibiótico é a melhora dos sintomas não psicóticos.
“Para sintomas psicóticos, como alucinações e delírios, os antipsicóticos usados hoje funcionam bem. A grande busca é por um tratamento para sintomas como o desinteresse em outras pessoas, que são os que mais dificultam os relacionamentos das pessoas com esquizofrenia.”
Exames de imagem (ressonância magnética estrutural) do cérebro feitos em 24 dos 30 participantes do estudo mostraram que quem usou o antibiótico teve uma proteção maior do sistema límbico, principalmente do cingulado anterior, região ligada à cognição e motivação.
Isso, segundo Hallak, indica efeito da substância contra os problemas cognitivos enfrentados pelos doentes mesmo fora das crises agudas, como os de linguagem.
De acordo com o jornal inglês “Independent”, o grupo que faz a pesquisa com minociclina por lá obteve um financiamento de 1,9 milhão de libras (R$ 5,2 milhões) para estudos com 175 pacientes.
A expectativa, para Jaime Hallak, não é substituir os antipsicóticos pelo antibiótico, mas somá-lo ao tratamento. A minociclina já é aprovada para uso em humanos, mas não para o tratamento da esquizofrenia. Em breve, diz o médico, os achados daqui serão publicados em uma revista científica.
Fonte: Folha de S. Paulo