Feira lança alta tecnologia em saúde, mas novidades demoram a chegar ao público

Uma câmera do tamanho de uma pílula que a pessoa engole para fazer exame do estômago e do intestino, uma manta que aquece o corpo do paciente por partes ...

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Uma câmera do tamanho de uma pílula que a pessoa engole para fazer exame do estômago e do intestino, uma manta que aquece o corpo do paciente “por partes”, tintas antibactérias, aplicativos que ensinam ao paciente exercícios fisioterápicos.

Novas tecnologias em saúde, como as apresentadas nesta semana na Hospitalar, maior feira da saúde da América Latina, surgem a cada ano, mas podem demorar até uma década para chegar aos pacientes – muitas vezes, nem chegam.

Segundo os especialistas, os entraves são vários. Entre eles a falta de evidência científica sobre a eficácia de um novo produto, a demora de aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e as dificuldades para a incorporação ao SUS ou à lista de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

“A rapidez com que novas tecnologias em saúde chegam ao mercado não dá tempo para acumular casos e haver uma avaliação criteriosa baseada em evidência [para analisar custo, efetividade e segurança]”, afirma o médico Álvaro Atallah, diretor do Centro Cochrane do Brasil.

Para a indústria, a regulação é o principal gargalo.

Carlos Goulart, presidente-executivo da Abimed (associação da indústria de alta tecnologia de produtos médico-hospitalares), diz que a aprovação de novos produtos que demandam vistorias no exterior leva até três anos.

“Hoje há uma fila de 1.500 fábricas para serem vistoriadas. Quando o registro sai, o produto pode estar defasado”, afirma. Várias empresas têm recorrido à Justiça para apressar as vistorias.

A Anvisa faz parte um fórum internacional de reguladores de produtos médicos que discute um modelo comum de certificação de equipamentos da área de saúde, o que agilizaria o processo.

Para o médico e administrador hospitalar Walter Cintra Ferreira Júnior, o tempo de demora da Anvisa para dar o registro é um fator de proteção ao sistema de saúde. “A pressão da indústria por incorporação é enorme.”

Depois da aprovação do produto no país, outra questão é saber se o SUS ou os planos de saúde vão custeá-lo.

A pequena pílula equipada com câmera é um bom exemplo. Aprovada pela Anvisa em 2002, não está no rol da ANS nem no SUS. Só é reembolsada por alguns planos de saúde.

Na Hospitalar, foi lançada uma nova versão da pílula que faz um diagnóstico similar à colonoscopia, mas sem necessidade de sedação.

“É uma tecnologia útil, mas, sem reembolso, fica difícil de entrar na rotina das clínicas ou dos hospitais”, diz o nefrologista Yussif Ali Mere Júnior, presidente do Sindhosp (sindicato dos hospitais, clínicas e laboratórios).

Segundo ele, cada vez mais a relação entre custo e efetividade de um novo produto deve ser considerada antes de sua incorporação ao sistema de saúde para evitar procedimentos desnecessários.

“Há mais aparelhos de ressonância magnética no eixo da av. Paulista e adjacências do que em todo o Canadá.”

A empresária Waleska Santos, presidente da Hospitalar, afirma que o papel da feira é democratizar a informação sobre todos os tipos de produtos e serviços em saúde. A incorporação deles, diz, é decisão das instituições de saúde, das agências reguladoras e das fontes pagadoras.

Fonte: Folha de S. Paulo

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