Colocada de escanteio pelos pediatras, a chupeta voltou à cena com novo papel. De acordo com cientistas, ela pode auxiliar na amamentação dos recém-nascidos.
Uma pesquisa dos EUA indica que, além de não atrapalhar as mamadas como se temia, a chupeta dada nos primeiros dias de vida estimula a amamentação no peito.
O protocolo médico internacional vigente diz que a chupeta prejudica a sucção e interfere na amamentação natural. Por isso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que as maternidades não forneçam chupetas aos recém-nascidos.
Os pesquisadores americanos resolveram verificar essa norma e se debruçaram sobre dados de 2.249 crianças nascidas entre junho de 2010 e agosto de 2011 na maternidade da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon.
Os resultados mostram que a taxa de aleitamento natural na maternidade estudada diminuiu de 79% para 68% após a abolição das chupetas, em dezembro de 2010.
Além disso, a proporção de bebês que receberam alimentação suplementar aumentou de 18% para 28%.
“O efeito do uso de chupeta no início e durante o aleitamento materno não foi bem estabelecido na literatura médica”, diz Laura Kair, da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, uma das coordenadoras do estudo.
Os resultados devem ser apresentados hoje na reunião anual da PAS (Sociedade de Pediatria dos EUA).
Contra a regra
Os dados têm causado arrepios nos pediatras. “Esse estudo sozinho está contra as recomendações da OMS, baseadas em muitas pesquisas científicas”, afirma Luciano Borges, do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
De acordo com o especialista, outros estudos já mostraram que a chupeta está associada a uma redução do aleitamento materno.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a maioria das maternidades segue as normas da OMS e aboliu as chupetas (337 delas têm um certificado do ministério por seguirem o protocolo).
“Ninguém deu chupeta para o Henrique na maternidade. Mas também não me disseram para evitá-la”, diz a administradora Flávia Preuss Batista. Ela deu à luz em novembro, na maternidade Santa Joana, em São Paulo.
Quando Henrique estava com um mês, afirma Batista, o pediatra indicou as chupetas ortodônticas para substituir o dedo, que o pequeno estava chupando. Ele continuou mamando no peito.
“Hoje ele tem mais necessidade de sucção porque os dentinhos estão nascendo.”
De acordo com Borges, da SBP, o uso de chupeta costuma ser indicado pelos pediatras após a fase de amamentação no peito. “Mas eu não recomendo nunca”, diz.
Para o especialista, dificilmente a OMS mudará o protocolo de amamentação diante do novo estudo.
Os autores do trabalho, no entanto, querem mais pesquisas sobre a relação da chupeta com o aleitamento.
Essa é a segunda vez no ano na qual a chupeta volta ao debate. Em fevereiro, cientistas, também dos EUA, publicaram um estudo relatando menor incidência de morte súbita (morte repentina de bebês de até um ano) em crianças que usavam chupeta após três semanas de vida.
Fonte: Folha.com