A doença de Alzheimer não é mais um tema desconhecido. Trata-se de uma doença degenerativa crônica que leva à perda de memória e à diminuição da autonomia para execução das atividades cotidianas, além de gerar dificuldades de julgamento e de tomada de decisões. Desorientação no tempo e no espaço e mudanças de personalidade também estão entre as principais alterações.
Devido ao grande número de diagnósticos observado nos últimos anos, a temática em muito tem sido abordada por meio de livros, filmes e até novelas.
Por meio do Grupo de Pesquisas em Neurofarmacologia do Envelhecimento (GPNFE), a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) desenvolve estudos pelo projeto ELIMDA sobre o Alzheimer em busca de novas formas de tratamento e cura.
Há oito anos, o GPNFE começou a estudar o uso do lítio no tratamento da doença de Alzheimer, embora esse medicamento seja há muito tempo utilizado na clínica para tratamento de pacientes bipolares. "Os tratamentos existentes com lítio para transtorno bipolar utilizam doses entre 600mg/dia até 1.800mg/dia.
Essas doses podem causar como efeitos colaterais: náusea, vômito, diarreia, alteração de quadro mental, hipotireoidismo e insuficiência renal. Nossa proposta é utilizar o lítio em microdose (1,5mg por dia), ou seja, uma dose aproximadamente mil vezes menor que as doses normalmente utilizadas, visando diminuir os efeitos colaterais", explica a pesquisadora e doutoranda na área, Marília Albuquerque.
Entre 2007 e 2009, esse tratamento foi utilizado em 113 pessoas com doença de Alzheimer e mostrou-se eficiente em impedir o declínio cognitivo de paciente, sem que nenhum efeito colateral fosse relatado. "Nosso interesse era entender como essa dose de lítio estava modulando o cérebro a ponto de estabilizar o declínio de memória. Para isso, fomos estudar a ação do tratamento crônico com microdose de lítio em camundongos transgênicos. Esses camundongos possuem a inclusão no seu material genético do gene da proteína precursora amiloide", comenta o Hudson Buck, coordenador do estudo.
Existem algumas hipóteses sobre a causa da doença de Alzheimer. Entre elas está a de que as células do cérebro (neurônios) ficam impossibilitadas de se comunicarem devido ao acúmulo de placas entre elas ou mesmo as células estavam sem condições de funcionamento, pois suas proteínas de sustentação tinham se contorcido e formado um emaranhado. Tanto as placas quanto os emaranhados fazem parte das lesões observadas nos cérebros dos pacientes que tiveram doença de Alzheimer e impedem o funcionamento desejado do cérebro, ocasionando os déficits de memória e outras alterações observadas nos pacientes, dependendo da área do cérebro afetada.
"Os resultados da pesquisa com pacientes quanto com camundongos demonstram que o tratamento com microdoses de lítio é promissor para estabilização ou até mesmo melhora da memória de pacientes com doença de Alzheimer. Assim, em 2015, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, teve início uma nova pesquisa, cujo objetivo consiste em ampliar os testes utilizados na pesquisa anterior, além de inserir novos, para monitorar a segurança desse tratamento, por meio de avaliações do funcionamento dos rins, da tireoide e do fígado. Serão feitos ainda exames de ressonância magnética encefálica, para avaliar a estrutura e o volume das áreas relacionadas com a cognição", diz Buck.
Voluntários para a pesquisa
Para total sucesso da pesquisa, a Faculdade Santa Casa de São Paulo está recrutando pacientes para participar desse projeto. Para participar do processo, a pessoa precisa ter 60 anos ou mais, apresentar os sintomas relacionados à doença de Alzheimer no estágio leve ou moderado e ter um cuidador que se responsabilize pela participação efetiva no estudo. O participante da pesquisa contará com uma equipe multiprofissional para a avaliação e atendimento, além de ter acesso a exames periódicos sem nenhum custo. O estudo é coordenado pelos professores Hudson Buck e Maria Fernanda Mendes. O contato é pelo e-mail elimda@fcmsantacasasp.edu.br ou pelo telefone da FCMSCSP: (11) 3331-2008.