A Federação de Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo e o SindHosp promoveram o fórum “Saúde Digital – Presente e Futuro” no palco do maior e mais importante evento de tecnologia e inovação na saúde do país, Healthcare Innovation Show (HIS), que aconteceu no São Paulo Expo, na capital paulista. O encontro reuniu nomes de peso do setor, com destaque para Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do governo federal, Fabio Baccheretti Vitor, presidente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (CONASS), Mauro Junqueira, secretário executivo do Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (CONASEMS), e Jean Gorinchteyn, ex-secretário da Saúde do Estado de São Paulo e diretor Técnico-Científico da Federação. Também participaram do evento Cristina Balestrin, assessora técnica de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Poliana Cardoso Lopes Santos, secretária adjunta da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, e Ramon da Costa Saavedra, diretor de Informação da Saúde na Superintendência de Saúde Digital da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.
Guia de Ações Municípios Saudáveis
Francisco Balestrin, presidente da Federação e do SindHosp, abriu o fórum com o lançamento do “Guia de Ações Municípios Saudáveis”, publicação voltada aos futuros secretários municipais de Saúde, que vão assumir o cargo em janeiro de 2025. “Trata-se de um guia orientativo voltado ao planejamento das cidades, das menores às maiores”, destacou Balestrin. “Demos foco para cinco agendas prioritárias: envelhecimento saudável, doenças crônicas, saúde mental, controle de epidemias e saúde digital, que precisam de um eixo de atuação, incluindo diagnóstico, planejamento, promoção e prevenção e cuidado”.
Estratégias à saúde
No painel de abertura, Jean Gorinchteyn moderou o debate “Panorama Atual da Saúde Digital no Brasil” com Fabio Baccheretti Vitor, do CONASS, e Mauro Junqueira, do CONASEMS. “As eleições representam uma grande oportunidade de se avaliar e criar estratégias para a saúde. Nosso Guia de Ações levanta diretrizes importantes. Nunca podemos perder de vista a equidade do nosso sistema único e integrado de saúde, nossa verdadeira democracia”, enfatizou Gorinchteyn.
Processo estruturante
Fábio Baccheretti, que é também secretário da Saúde de Minas Gerais, acredita que vivemos o momento de maior transformação do SUS desde sua criação. Para ele, a saúde digital vai permitir uma redução da desigualdade ao dar acesso a todos com diminuição de desperdício e ganho de eficiência. “Temos uma saúde subfinanciada, sem expectativa de aumento de financiamento e uma inflação quatro vezes maior do que a média, com aumento da demanda diante da pirâmide etária invertida, crescimento de vacinação e necessidade de incrementar a atenção básica”, apontou Baccheretti. “A equidade e a integralidade são importantes, mas precisamos de integralidade, garantir, por exemplo, que um exame de mamografia seja feito e o laudo esteja disponível antes de perder validade. A saúde digital será decisiva para a interoperabilidade, dando mais acesso às informações, diminuindo replicação, garantindo diagnósticos mais rápidos e reduzindo fraudes. O maior desafio, porém, é entender o processo como algo estruturante, que vai demandar tempo: teremos de ter paciência até obtermos dados confiáveis. Governos que buscarem soluções rápidas vão partir para uma transformação inevitavelmente paliativa”.
Transformar dados em informação
Na opinião de Mauro Junqueira, do CONASEMS, os debates em torno da saúde digital precisam levar em consideração os rincões do Brasil, sobretudo considerando o orçamento da saúde. “Faz tempo que mantemos o orçamento da saúde em 1,5 vez o PIB do país, ou seja, um subfinanciamento de 5,9 reais por habitante/dia. Além disso, há uma rotatividade da gestão, foram mais de 30 ministros em 35 anos de SUS”, criticou Junqueira. “Geramos milhares de dados de saúde, mas não temos informações. Temos de transformar dados de clínicas, hospitais e laboratórios em informação, para que o paciente tenha acesso ao diagnóstico e possa receber tratamento em tempo oportuno. Estamos no caminho certo, a Rede Nacional de Dados da Saúde (RNDS) foi um grande passo para centralizar os dados em um mesmo lugar”.
Soluções diferentes
No segundo painel do fórum, a diretora executiva da Federação e do SindHosp, Larissa Eleio abriu espaço para “Experiências Exitosas de Transformação Digital no SUS – desafios e próximos passos”. Quem abriu o evento foi Cristina Balestrin, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Segundo ela, a pandemia criou condições para a intensificação de iniciativas em telessaúde, criando condições para ações estruturantes. “Em São Paulo, estamos trabalhando a transformação digital da saúde em cinco eixos, considerando que a jornada não é linear. Dividimos esse processo em iniciativas estruturantes e definições estratégicas, atenção básica, acesso a serviços especializados, restruturação e farmacêutica”, elencou Cristina Balestrin. “Temos de lidar com desafios importantes, como a assimetria no estado, que é a mesma no Brasil. Não adianta termos as mesmas soluções para todos, porque as necessidades são diferentes. Além disso, não adianta termos ferramenta eletrônica sem pensar em segurança de dados, armazenamento e composição com a RNDS. Na ponta, já temos soluções importantes com o AME Digital em unidades prisionais, por exemplo”.
Atendimento pré-hospitalar
Poliana Cardoso Lopes Santos, da Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais, foi a segunda a apresentar iniciativas na área de saúde digital. Segundo ela, a ideia é transformar a forma de se fazer saúde pública, dando acesso remoto aos pacientes e incrementando o atendimento pré-hospitalar via telessaúde. “Estamos trabalhando para qualificar ambiente de dados, ampliar e agilizar acesso e melhorar a assistência. Isso significa tradução dos dados com padrão da informação, prontuário unificado, interoperabilidade, redução de desperdício, conhecimento da jornada, troca de informações e blockchain”, destacou Santos. “Vamos também ampliar e agilizar o acesso a serviços por meio de inteligência artificial”.
Central integrada de comando
Ramon da Costa Saavedra, da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, acredita que o grande desafio da saúde digital é integrar e interoperar os dados, garantindo um acesso mais ágil. Ele destacou a Central Integrada de Comando e Controle da Saúde do seu estado com equipes multidisciplinares das áreas de tecnologia e saúde. “É um centro de inteligência vivo, atuando conforme a situação. Estamos trabalhando não para quantificar sistemas, mas qualificá-los, de modo que dialoguem, permitindo a interoperabilidade. Temos um painel das arboviroses e foi de lá que monitoramos as semanas epidemiológicas da febre Oropouche, por exemplo”, revelou Saavedra. “Já temos uma rede estadual de dados, análoga à RNDS, voltada hoje à atenção básica e a sistemas assistenciais e administrativos. São 15 milhões de CPFs. No futuro, queremos garantir a interoperabilidade com uma linha do tempo do paciente com dados unificados e até trabalhar com predição. Queremos ter unidades 4.0, ou seja, 100% digitais”.
Um tema que une
Fechando o fórum, Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Brasil participou do Keynote Speaker “Visão de Futuro da Saúde Digital no Brasil”. O moderador Francisco Balestrin, presidente do Conselho da Federação e do SindHosp, chamou a atenção para um fenômeno em torno da saúde digital. “Independentemente de questões partidárias ou ideológicas, parece haver uma unanimidade em torno do tema. Ninguém nega a saúde digital, tornou-se um tema que nos une em torno das transformações em busca de melhor atendimento e mais acesso”, destacou Balestrin.
SUS Digital
Ana Estela Haddad enalteceu o lançamento do SUS Digital e falou do desafio de “desenhar o digital com o presencial”, buscando uma integração. Segundo ela, o SUS Digital vem para fortalecer a equidade, na continuidade do cuidado quando se pensa na jornada. “Mas o SUS Digital vai além do assistencial, são várias dimensões. Tem a força de trabalho, a vigilância, a inovação, a pesquisa, a formação, a gestão… tem também a conectividade, a infraestrutura da rede, a privacidade, a governança de dados, enfim, são muitas camadas. Para chegar no assistencial, não dá para endereçar camadas de modo linear”, lembrou a secretária Ana Estela Haddad. “Estão no escopo do SUS Digital, que já conta com um aplicativo gratuito para ser baixado em qualquer dispositivo, o Meu SUS Digital, o prontuário eletrônico, a interoperabilidade, o acesso aos dados com mobilidade e a telessaúde. Já com 1,8 bilhão de registros, a RNDS está sendo construída e desenvolvida sem fragmentação SUS e Suplementar, como um ecossistema interoperável. Todos ganham, não só o paciente”.
Mais vulneráveis
De acordo com Haddad, as filas da saúde não vão terminar, mas podem diminuir e o paciente saberá onde está nela. Para ela, o objetivo é também reduzir a desigualdade digital. “A ideia é caminhar para o futuro e não deixa ninguém para trás, atendendo a quem mais precisa. Sobre a inteligência artificial, defendo que não sejamos só usuários, mas coloquemos a tecnologia em nossa estratégia de país”.