Postos de saúde têm consulta relâmpago

Em uma manhã de quarta-feira, 27 mulheres, a maioria delas grávidas, aguardavam a chegada de uma ginecologista no corredor apertado da UBS (Unidade Básica de Saúde) Paraisópolis, localizada na zona sul de São Paulo.

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Para cumprir meta de atendimento sem cumprir horário, profissionais chegam a fazer consultas de dois minutos

Em uma manhã de quarta-feira, 27 mulheres, a maioria delas grávidas, aguardavam a chegada de uma ginecologista no corredor apertado da UBS (Unidade Básica de Saúde) Paraisópolis, localizada na zona sul de São Paulo.

A médica chegou uma hora e 43 minutos atrasada e foi embora três horas depois, após atender as 27 pacientes. Cada consulta, acompanhada do lado de fora da sala pela Folha, durou, em média, seis minutos.

A ginecologista foi contratada para um trabalho de 20 horas semanais na UBS Paraisópolis, mas, segundo a equipe do posto, ela vai ao local apenas duas vezes por semana e fica quatro horas em cada um dos dias. No dia em que a Folha esteve lá, ela ficou três horas. Este é apenas um de muitos casos de médicos da rede pública da Grande São Paulo que não cumprem horário.

Em duas semanas de reportagem, a Folha flagrou 20 profissionais nessa situação. Segundo pessoas da área de saúde ouvidas, o número é maior graças a acordos informais entre gestores de unidades de saúde e os médicos.

Eles ficam dispensados de cumprir o horário de trabalho desde que atendam uma meta de consultas. Nos postos de saúde da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, a Folha apurou que a meta é de 80 pacientes por semana para cada um dos médicos. A prefeitura nega a prática de acordos, diz que o horário tem de ser cumprido e afirma que vai apurar os casos apontados pela Folha.

Consulta relâmpago
Como acumulam outros trabalhos, incluindo atendimentos em clínicas particulares, os médicos cumprem a meta no menor tempo possível, o que leva à realização das “consultas relâmpago” testemunhadas pela Folha – alguns atendimentos duraram menos de dois minutos. Nos corredores das UBSs, as mulheres que aguardavam ser atendidas reclamavam entre elas que há médicos que não tocam nos pacientes e parecem “sentir nojo” deles.

A maioria dos médicos flagrados pela Folha atende em UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs Especialidades (Assistência Médica Ambulatorial) da Prefeitura de São Paulo, que funcionam só com consultas marcadas.

Dentre os médicos acompanhados pela reportagem, alguns trabalham ainda em postos das prefeituras de Guarulhos, Diadema e Itapecerica da Serra e do governo do Estado, onde também não cumprem seus horários.

Um dos médicos afirmou, na condição de não ser identificado, que trabalha 12 horas a menos por semana em um hospital público na zona leste de São Paulo, com a permissão do chefe. Pelas 36 horas semanais que deveria permanecer lá, recebe cerca de R$ 6.000 por mês.

Só uma hora
Dentre os casos descobertos pela reportagem, há desde profissionais que trabalham uma hora a menos por dia até outros que permanecem no posto só uma hora.

É o caso de um dos médicos na UBS Jardim Engenheiro Goulart, zona leste de São Paulo: ele chegou às 10h50 e saiu às 11h50. As consultas duraram entre 2 e 8 minutos.

Além das consultas rápidas, o não cumprimento do horário integral pelos médicos gera outro problema: pacientes esperam tempo demais para conseguir marcar uma consulta. Em algumas das UBSs visitadas, as atendentes afirmavam que só havia vagas na agenda de 2012. A saúde foi a área da administração do prefeito Gilberto Kassab mais criticada em recente pesquisa Datafolha.

Fonte: Folha de S. Paulo

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