Carga estava em empresa do mesmo grupo que importava lençóis usados em hospitais dos EUA pelo Porto de Suape, em Pernambuco, como ‘tecidos de algodão com defeito’; governo federal confirma que empresário importa retalhos americanos há 10 anos
A Polícia Civil arrombou ontem, em Caruaru, a 130 quilômetros do Recife, um galpão repleto de material semelhante ao encontrado em dois contêineres interceptados na semana passada pela Receita Federal no Porto de Suape. O galpão tem o mesmo nome fantasia – Império do Forro de Bolso – da empresa Na intimidade Ltda., que está sendo investigada por importação de lixo hospitalar dos Estados Unidos, mas o CNPJ difere.
O delegado regional de Caruaru, Erick Lessa, estima a apreensão em cerca de 15 toneladas do material – lençóis sujos com as logomarcas de vários hospitais americanos -, no galpão de 1,2 mil metros. A ação decorreu de denúncia da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa). A pedido do órgão, a polícia conseguiu mandado de busca e apreensão para invadir o local, que estava lacrado. O gerente da Apevisa, Jaime Brito, avaliaria o produto e separaria parte do material para ser analisado pelo Instituto de Criminalística (IC).
Na manhã de ontem, a Apevisa havia encaminhado ao IC cerca de 30 quilos de lençóis de pelo menos 15 hospitais americanos apreendidos em Santa Cruz do Capibaribe e em Toritama, no agreste. Em Santa Cruz fica a matriz da Império do Forro de Bolso. A filial fica em Toritama. Também ontem, o Ministério Público Federal em Pernambuco formalizou pedido à Polícia Federal de instauração de inquérito para apurar as responsabilidades pelo desembarque dos contêineres. Há indícios de pelo menos dois crimes – contrabando e uso de documento falso -, além de crime ambiental.
Negócio antigo – Há dez anos, Altair Teixeira de Moura, dono da Na Intimidade, importa “tecidos de algodão com defeito” dos EUA, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Conforme a pasta, antes de criar a Na Intimidade, em 2009, Altair foi sócio da Forrozão dos Retalhos Ltda., também em Santa Cruz, até 2008. A Forrozão importava, desde 2001, até US$ 1 milhão por ano – da mesma forma que fez, em 2009 e 2010, a nova firma.
A documentação da carga de dois contêineres interceptados no Porto de Suape pela Receita Federal, na semana passada, com 46 toneladas de lençóis sujos – além de seringas, cateteres e luvas usadas -, trazia a mesma identificação: “tecidos de algodão com defeito”. O material era vendido por peso pela Império do Forro de Bolso, a R$ 8,50 o quilo. As duas unidades da empresa foram interditadas no fim de semana pela Apevisa. O gerente da agência, Jaime Brito, apreendeu 30 quilos de lençóis de pelo menos 15 instituições americanas.
“Queremos comprovar se as manchas encontradas são de sangue e secreções humanas”, afirmou Brito. Ele adiantou que a empresa poderá ser interditada definitivamente, além de ter de pagar multa de até R$ 1,5 milhão.
Suspeita – Além dos dois contêineres, outros seis desembarcaram em Suape neste ano, em transação envolvendo a mesma importadora. Eles passaram pela alfândega sem fiscalização, segundo o inspetor-chefe da Receita Federal no porto, Carlos Eduardo da Costa Oliveira. Outros 14 contêineres, com suspeita de estarem carregados com lixo hospitalar, estão a caminho de Suape. Todos foram embarcados no Porto de Charleston, na Carolina do Sul, importados pela Na Intimidade.
Moura ainda não foi ouvido pelos órgãos que investigam o caso. Ele não foi localizado.
Fonte: O Estado de S. Paulo