Governo passa a fornecer fator de coagulação para crianças de até 3 anos com a doença, que causa sangramentos
O Ministério da Saúde lançou neste mês um programa de tratamento preventivo para crianças com hemofilia.
Desde o dia 1º de dezembro, pacientes de até três anos com hemofilia A e B grave e com até uma ocorrência de sangramento da articulação podem receber doses do fator de coagulação que não é produzido pelo corpo de quem tem a doença.
A hemofilia é uma alteração genética e hereditária no sangue, caracterizada por um defeito na coagulação.
O tratamento-padrão no país sempre foi sob demanda, ou seja, o paciente só recebe o medicamento quando sofre os sangramentos.
A exceção era o Distrito Federal, que já tinha um programa de prevenção primária.
Segundo especialistas, o uso do fator de coagulação na infância, antes da ocorrência de hemorragias, é o melhor tratamento para hemofílicos graves.
Isso previne lesões nas articulações e diminui a frequência de hemorragias. Assim, essas crianças terão melhor qualidade de vida e passarão por menos internações e exames, usarão menos remédios, entre outros benefícios. O tratamento preventivo é recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e já é padrão em países como Estados Unidos, Canadá e Dinamarca.
Segundo Ana Clara Kneese Nascimento, da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e do Serviço de Hematologia da Santa Casa de São Paulo, o tratamento terá grande impacto futuro.
“Essa geração que receberá a profilaxia vai ter uma nova oportunidade de chegar lá na frente levando uma vida normal, com mais autonomia e menos complicações.”
De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o programa foi lançado devido a uma mudança no processo de compras de hemoderivados. Como o contrato de compra foi ampliado para dois anos, o preço do fator pôde ser reduzido, o que ampliou sua distribuição.
Para os próximos dois anos, o Ministério da Saúde comprou 850 milhões de unidades de fator 8 para hemofilia A (640 milhões para 2012 e 210 milhões para o primeiro trimestre de 2013), o que custou R$ 400 milhões.
Para comparação, em 2011 foram adquiridos 304 milhões de unidades. No Brasil, 15 mil hemofílicos recebem tratamento na rede pública.
O novo programa não vai incluir pacientes mais velhos porque a lesão, quando iniciada, é progressiva e não pode ser recuperada. Mas o ministério estuda dar o tratamento para os maiores de três anos em casos específicos.
Barreiras
Segundo Nascimento, o custo era a maior barreira para a implantação de um programa como esse.
Mas, a longo prazo, as despesas com tratamento ortopédico e internações diminuem com a prevenção.
“Além disso, existe uma vantagem que não entra em conta nenhuma, que é a satisfação pessoal de essa pessoa poder casar, ter filhos, estudar e competir de igual para igual com seus pares.”
Fonte: Folha de S. Paulo