William Shakespeare dizia que “a alegria evita mil males e prolonga a vida”. Infelizmente, os resultados da pesquisa State of the Global Workplace, realizada pela consultoria Gallup, especializada em análise comportamental no trabalho, acendem um sinal de alerta para as organizações do país, ao mostrar que grande parte dos trabalhadores não está feliz em suas ocupações. O levantamento ouviu 128 mil funcionários em 160 países, para verificar o que eles sentem em relação a suas vidas e aos seus empregos.
Perguntados se vivenciaram situações de estresse no trabalho no dia anterior, 46% dos brasileiros responderam que sim, o que coloca o Brasil na sétima posição na América Latina nesse quesito. Os seis países mais estressados do continente são: Bolívia (55%), República Dominicana (51%), Costa Rica (51%), Equador (50%), El Salvador (50%) e Peru (48%). Quando analisadas a raiva e a tristeza diárias, o Brasil sobe para a quarta posição em ambos os quesitos, com 25% dos trabalhadores afirmando estar tristes (Bolívia, El Salvador e Jamaica ocupam as três primeiras posições) e, 18%, com raiva (novamente a Bolívia ocupa o primeiro lugar, seguida da Jamaica e do Peru).
Para a saúde, que depende de mão de obra especializada e qualificada, os resultados são preocupantes. Cuidar de pessoas em situações de fragilidade, muitas vezes com risco de morte, é uma arte que exige foco e equilíbrio. Saber que quase metade dos trabalhadores do país estão estressados e boa parte encontra-se triste ou com raiva, demanda atenção redobrada por parte dos gestores do setor. Para evitar situações estressantes, algumas ações podem e devem ser adotadas, como manter os colaboradores treinados, um bom clima organizacional, estar atento às relações entre as equipes multidisciplinares, oferecer um canal aberto para diálogo, ter uma comunicação transparente, entre outras.
Mas não são apenas as empresas que devem fazer a sua parte. É sabido que fatores externos, como o contexto econômico e os altos índices de violência, têm impacto direto nas emoções. Em 2022, a pesquisa Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, feita pela Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) com apoio do Banco Central (BC), relatou que 56,1% dos respondentes percebiam as finanças como motivo de estresse na família. Paralelamente, a violência é porta de entrada para uma série de problemas mentais, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
Além de oferecer cursos de capacitação para o setor, a FESAÚDE-SP e o SindHosp, como entidades da sociedade civil, estão sempre abertas ao diálogo com o poder público das três esferas para colaborar na discussão e formulação de políticas públicas capazes de assegurar ambientes de trabalho mais produtivos e uma melhor qualidade de vida à população. Com a união da sociedade, dos setores produtivos e do governo é possível introduzir saúde ao dia a dia dos trabalhadores, pensando nela como um estado de completo bem-estar físico, mental, emocional e espiritual, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Francisco Balestrin
Presidente da FESAÚDE-SP e do SindHosp
Artigo publicado na edição de dezembro de 2024 da revista LaborNews. Clique aqui e acesse a íntegra da publicação.