Publicado pelo jornal Labor News, o presidente da Fehoesp, Yussif Ali Mere Junior, escreve artigo sobre o cenário da saúde suplementar versus o panorama do SUS pós-pandemia
A saúde suplementar no Brasil vem contabilizando números positivos nos últimos meses.
Em março deste ano o país superou a marca de 49 milhões de usuários, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Esse aumento é de 2,6% na comparação com março do ano passado.
Já em junho, foram mais de 49 milhões e 600 mil beneficiários utilizando planos privados de assistência médica.
Em 2020, o país tinha menos de 47 milhões de beneficiários e, desde então, o aumento da adesão vem sendo contínuo.
Especialistas analisam que a média salarial de contratação está menor.
Afinal, a queda nas taxas de desemprego veio com salários mais baixos e o incremento desses salários depende do crescimento do PIB.
A reação na oferta de vagas de emprego tem sido registrada no aumento de vagas formais de trabalho e de trabalhadores por conta própria. Esses são perfis que buscam por planos de saúde.
Mas também vem crescendo o trabalho informal, um perfil que, em tese, tem mais dificuldade de acessar a saúde suplementar.
Dentro do modelo atual – considerando economia em recuperação devido ao afrouxamento das medidas de isolamento, possibilidades de aumento de vagas de empregos formais, expectativa de incremento do PIB, dentre outras possibilidades.
Desse modo, a saúde suplementar tem boas chances de atrair tanto usuários que deixaram seus planos em consequência da situação econômica, quanto novos beneficiários que chegam ao mercado de trabalho.
Nesse cenário ainda é possível que a experiência com a pandemia tenha também um novo peso na opção do brasileiro pela saúde suplementar.
E a saúde pública?
Mas o SUS precisa de um bom projeto de gestão que responda a inúmeras novas e velhas variantes.
A saúde pública brasileira atua especialmente na atenção curativa.
Dessa forma, com menor atenção nos cuidados de longo prazo e reabilitação, segundo o livro “Contas de saúde na perspectiva da contabilidade internacional: conta SHA para o Brasil, 2015-2019”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Em síntese, nesse período estudado quase metade das despesas em saúde foram empregadas na atenção curativa.
Somando gastos com medicamentos, artigos médicos e exames, esse percentual chega a mais de 80%.
Esse retrato mostra um país doente, atrás de cura.
É preocupante termos menos de 20% dos gastos em saúde para prevenção, vigilância e outras ações efetivas nos cuidados com a qualidade de vida da população.
É senso comum que a qualidade assistencial do SUS à população em geral não contribui como deveria para a qualidade de vida.
Saúde se faz com educação e prevenção.
Há que se pensar nos pontos de vulnerabilidade do modelo curativo.
Além de ser mais caro está sendo colocado na berlinda com o envelhecimento rápido da população, com possíveis endemias que abalam todo o sistema, com o surgimento de novas doenças ou conflitos políticos e econômicos pelo mundo que abalam países mais dependentes, só para citar alguns exemplos.
Por tudo isso, é preciso considerar a importância de se repensar os pontos de gargalo do SUS neste novo cenário e a necessidade de incrementar as parcerias da saúde pública com a privada.
Como, por exemplo, do atendimento aos pacientes crônicos renais, a urgência de implementar no país um amplo programa de educação para a saúde tanto para o usuário final quanto para universidades que formam profissionais da saúde, até para gestores de saúde pública e privada.
Quais são as perspectivas para o futuro da saúde?
Com processos de gestão analisados continuamente, a saúde suplementar tem condições de promover ajustes mais rapidamente.
Desde que, evidentemente, trabalhe com dados que contribuem para aprimorar os processos e prever cenários.
Em julho de 2020, a ANS divulgou que os planos de saúde perderam 283 mil usuários com a pandemia e o aumento do desemprego.
Então há uma demanda latente. Sob essa ótica, uma reação econômica no país deve impactar positivamente no acesso do brasileiro à saúde suplementar.
Estes são os pontos sobre os quais os gestores devem se debruçar incansavelmente para planejar uma máquina mais eficiente.
Confirmando-se novos incrementos salariais a reboque de uma melhora possível dos principais indicadores econômicos brasileiros, a tendência é o investimento em saúde privada acompanhar a elevação.
Será o momento de também os gestores privados anteciparem-se aos gargalos, usando como lições as fragilidades do SUS.
Afinal, prevenção cabe em todos os níveis quando se trata de saúde.
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