Com fechamento de clínicas, no Rio, pacientes psiquiátricos retornam ao convívio familiar após anos internados
Diante da perspectiva do retorno do filho para casa, os pais de Elias Antônio Santana Vilhena reagiram com medo.
Com retardo mental grave e sem nunca ter aprendido a falar, Elias foi internado em uma clínica psiquiátrica aos oito anos, após episódios de agressividade e fugas frequentes. Quando deixou o local, em julho deste ano, era um homem de 37.
A saída fez parte do processo de desativação da clínica neuropsiquiátrica Amendoeiras, de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Conveniada ao SUS, a instituição foi fechada por ordem da Justiça. Os últimos quatro dos 136 internos saíram no último dia 6.
A liminar foi concedida a pedido do Ministério Público Estadual que, em inspeção na clínica, encontrou pacientes nus que se arrastavam sobre as próprias fezes. O superintendente de Institutos Municipais de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Mario Barreira, diz que há anos o município não mandava novos pacientes para lá.
Desde 2001, uma lei federal veda a internação de pessoas com transtornos mentais em instituições com características de asilo e sem serviços adequados.
O processo de fechamento acontece também em outras instituições do tipo, como o hospital-colônia de Rio Bonito (a cerca de 80 km do Rio).
Em março havia 255 internos no local; em agosto eram 222. Alguns estão indo para casas de famílias e outros para residências terapêuticas (casas coletivas onde são acompanhados por cuidadores).
Com o fechamento do Amendoeiras, o objetivo era, sempre que possível, devolver o interno ao convívio social. Mas, apesar do esforço para encontrar as famílias – muitos já estavam havia décadas sem contato com parentes -, a maioria acabou indo para outras instituições. Seis deles, porém, conseguiram sair direto para o convívio familiar.
No caso de Elias, que durante 29 anos só viu os pais em encontros esporádicos, a primeira reação da família não foi boa. “Queria que ele ficasse lá”, conta o pai, o eletricista aposentado Manoel Carlos Cardoso de Vilhena, 70.
Aos poucos, os pais concordaram em encontrá-lo. Pouco depois, o levavam para passar um fim de semana em família. Depois disso, não o deixaram mais.
“Eu acordei para minha responsabilidade de pai”, diz Vilhena, que, durante o dia, deixa o filho no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), onde ele participa de atividades ocupacionais e é avaliado por um psiquiatra. Medicado, Elias não foge mais de casa nem está agressivo.
Críticas
Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, os governos adotam o caminho mais fácil ao optar por fechar instituições psiquiátricas. Na opinião dele, o caminho deveria ser a qualificação dos serviços.
Além disso, Silva questiona a eficiência do CAPS para a resolução de doenças mentais. “O CAPS como estratégia de ressocialização é uma coisa. Como equipamento médico é outra”, afirma.
Fonte: Folha de S. Paulo