Médicos do setor público farão greve na terça contra MP que, na prática, reduziu seus vencimentos à metade
Cinquenta mil médicos do serviço público estão convocados para faltar às suas atividades na terça-feira, excetuados os que se ocupam dos atendimentos de emergência. A greve-relâmpago pretende lembrar ao governo a necessidade de corrigir a injustiça que, plantada em meio a uma medida provisória, na prática reduziu à metade os vencimentos dos médicos federais. Greves de médicos são sempre problemáticas, até pela resistência da classe a fazê-las, mas a convocação é justa. E, ainda por cima, lembra mais do que a MP tresloucada.
Em resumo, deu-se que o regime de 20 horas semanais dos médicos foi duplicado, mas a nova carga horária não significou a duplicação dos vencimentos. Nem correção parcial.
É justo reconhecer, porém, que o governo respeitou, para os 50 mil médicos, os 50 anos de tradição do trato dado aos médicos desde as “reformas” introduzidas nos serviços de previdência e saúde em seguida ao golpe de 64. O sucateamento da previdência e dos serviços de saúde foi acompanhado da desvalorização dos próprios médicos, cujos vencimentos têm emagrecido a ponto de estarem, como convite para os novos médicos, entre níveis mais baixos das funções exigentes de diploma universitário.
Médicos e professores. No serviço público federal, no estadual e no municipal têm a mesma condição degradada. Uns e outros com atividades exigentes, desgastantes, de nível alto de responsabilidade. O quanto um médico de hospital público trabalha e as condições precaríssimas em que o faz, como regra geral no Brasil, são dramáticos. E médicos e professores ainda têm que se sujeitar a serem os acusados de sempre, para a opinião pública, pelos serviços médicos sucateados e pelo ensino fracassado.
Como e por que ocorre a alguém, no Ministério do Planejamento, fazer mais este desatino da MP 568, eis uma questão impenetrável. E muito onerosa para Dilma Rousseff.
Fonte: Folha de S. Paulo