Além de preços acessíveis, indústria do setor oferece comodidades como busca em aeroportos, hotel e passeios
A recepcionista atende o telefone em húngaro, mas logo muda para um inglês quase perfeito e oferece a opção de manter a conversa em um espanhol titubeante. Na clínica do dentista Attila Knott em Budapeste, a equipe tem de ser ao menos bilíngue para atender os quase 400 “pacientes-turistas” por mês.
Como outras centenas de clínicas na Hungria, a Kreativ Dental oferece, por meio de representantes em países como Reino Unido e Áustria, pacote completo: além do tratamento, que costuma sair até 75% mais barato do que nos países de origem, há serviços como busca no aeroporto, hotel e passeios turísticos.
A Hungria é somente um dos países que têm aproveitado a onda de globalização dos serviços de saúde, demanda que tem sido impulsionada pelo envelhecimento da população, pela expansão da classe média e por um maior volume de informação compartilhada sobre tratamentos, custos e qualidade.
A indústria de turismo médico, que já movimenta US$ 40 bilhões em cirurgias como cardíaca e plástica e em tratamentos como dentário e de fertilidade, deve crescer 20% neste ano, segundo dados da consultoria Patients Beyond Borders. Algumas vedetes são cirurgia bariátrica e tratamento com células-tronco.
“Vamos continuar a ver o crescimento do fluxo de pacientes internacionais, enquanto 2 bilhões [de pessoas] devem passar para a classe média nos próximos 10 a 20 anos”, afirma Josef Woodman, presidente da Patients.
Estratégias
Na Ásia, governos investem no setor como uma das estratégias de crescimento, diz Ana Nicholls, especialista em negócios de saúde da Economist Intelligence Unit.
Com maciço apoio de agências estatais, Cingapura se tornou um dos principais centros de diagnóstico avançado -mas seus hospitais chiques cobram até 40% menos que os dos EUA.
A Coreia do Sul, que nos últimos três anos pulou de 8.000 pacientes estrangeiros para 82 mil e pretende chegar a 300 mil até 2015, oferece cirurgia robótica e terapia de “proton beam” para tratar câncer (radiação) também a “preços acessíveis”.
A maior fatia dos 6 milhões de viajantes por ano ainda vêm dos Estados Unidos, que têm um dos serviços médicos mais caros do mundo e muita gente sem seguro ou subsegurada. Daí o interesse crescente por tratamentos em países emergentes, que, além de mais baratos, oferecem “algo a mais”.
Safári e Ópera
O leque é vasto: de lifting facial com aventura em safári na África do Sul – a Associação de Turismo Médico do país estima uma clientela de mais de 130 mil pessoas – à combinação de ópera em Viena e tratamento dentário em Sopron, cidade húngara na fronteira com a Áustria que tem 60 mil habitantes e mais de uma centena de clínicas dentárias.
A economia para o cliente também é promissora. Na Costa Rica, na Índia, na Malásia e no México, um paciente americano pode pagar de 70% até 85% menos em tratamentos e cirurgias.
Para responder a essa demanda, agências internacionais como a americana JCI (Joint Commission International) desenvolvem parâmetros de qualidade. Desde 2006, o número de hospitais com o selo JCI subiu de 113 para quase 500. O primeiro a receber foi o brasileiro Albert Einstein.
Fonte: Folha de S. Paulo