Ex-presidente diz que ‘venceu’ doença após 5 meses de tratamento; retorno será ‘moderado’, afirma ministro
Depois de cinco meses de tratamento contra um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que “venceu” a doença e voltará à cena política.
Exames realizados ontem mostraram que o tumor desapareceu. No entanto, os médicos avisaram que ele só poderá ser considerado curado depois que passar cinco anos sem a doença.
A notícia encerra uma etapa penosa em que o petista foi submetido a três ciclos de quimioterapia e 33 sessões de radioterapia – método escolhido para evitar uma cirurgia que podia deixá-lo sem voz para o resto da vida.
Como efeitos colaterais, o ex-presidente perdeu o cabelo e a barba característica e chegou a emagrecer 18 quilos devido às dificuldades para se alimentar. Enfraquecido, ainda contraiu pneumonia e voltou a ser internado no início deste mês.
O diagnóstico de ontem foi antecipado pela Folha.com. Segundo boletim do hospital Sírio-Libanês, os exames mostraram “ausência de tumor visível, revelando apenas leve processo inflamatório nas áreas submetidas à radioterapia, como esperado”.
Lula chegou ao hospital às 7h40. Duas horas depois, recebeu o resultado e ligou a ex-primeira-dama Marisa Letícia, para presidente Dilma Rousseff – que está em viagem à Índia – e para o presidente interino, o deputado federal Marco Maia.
Já em seu instituto, gravou um vídeo e posou para fotos diante da pintura de um céu azul. Na gravação, em tom de pronunciamento oficial, agradeceu a Deus, à família e aos eleitores. “Recebi a notícia de que conseguimos vencer o câncer”, afirmou.
“Agora volto à minha militância com muito mais cuidado, muito mais maduro e muito mais calejado, pensando em primeiro lugar em cuidar da saúde, mas sobretudo [em] continuar lutando”, afirmou o ex-presidente.
“Vou voltar à vida política porque eu acho que o Brasil precisa continuar crescendo e se desenvolvendo.”
O diagnóstico foi festejado por aliados e por Dilma. “Ele deve estar comemorando até agora”, disse ela, em Nova Déli. “De certa forma, eu já esperava esta notícia. Mas, ter certeza é muito bom, né?”
A volta de Lula à ativa é aguardada com ansiedade pelos petistas -especialmente em São Paulo, onde o pré-candidato do PT a prefeito, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, enfrenta problemas na campanha.
Mesmo após eventos constantes em regiões da cidade onde o PT é mais forte, Haddad não decolou nas pesquisas: tem só 3% no Datafolha.
‘Centro da vida’
No entanto, o ex-presidente terá que adotar um ritmo mais lento. “Ele gostaria de participar mais, mas ainda está na fase de cuidar da saúde e recuperar as energias”, avisou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Segundo o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), a atuação de Lula nas eleições será “moderada”.
“Ele sabe que o estado de saúde não permite que faça comício em tudo quanto é lugar”, disse. “Precisamos tomar cuidado. O Haddad não é o centro da vida do Lula.”
O petista ainda terá que fazer fonoaudiologia e não confirmou data para uma reaparição pública, que pode ocorrer em abril, em São Bernardo do Campo. Ele também planeja tirar uma semana de descanso numa praia. A primeira viagem internacional deve ser em maio, à Holanda.
Risco de volta da doença é de 20% em casos similares
No jargão médico, o ex-presidente Lula teve uma “resposta completa ao tratamento”. Isso significa que, após sessões de quimio e radioterapia durante 5 meses, o tumor de 3 cm na laringe desapareceu.
Mas a luta contra o câncer ainda não está ganha. A literatura médica mostra que em 20% dos casos parecidos ao de Lula, o tumor pode voltar. A maioria (80%) das recidivas ocorre em até dois anos.
Para especialistas, em alguns casos sobram minúsculas células cancerosas, invisíveis a atuais métodos de diagnóstico.
Em 45 a 60 dias, Lula deve fazer um exame mais preciso, o PET-CT, moderno para rastrear tumores. Os médicos optaram por não fazê-lo agora porque Lula tem uma leve inflamação na garganta, em razão da radioterapia, o que poderia atrapalhar o exame.
Nos próximos dois anos, o ex-presidente fará avaliações periódicas. Elas incluirão exames como laringoscopia (a cada dois a três meses) e tomografia ou ressonância magnética (a cada quatro a seis meses).
Da radioterapia, devem sobrar sequelas permanentes, como diminuição da saliva e ressecamento da mucosa. Isso obrigará Lula a tomar mais água.
Em casos severos, quando a radioterapia destrói as glândulas salivares, o paciente tem que usar saliva artificial. Mas esse não parece ser o caso de Lula.
Fonte: Folha de S. Paulo