Instituições privadas adotam executivos e modelos de outras áreas para crescer
Tradicionalmente administrados por médicos e pouco profissionalizados, os hospitais privados brasileiros começam a buscar modelos de práticas de diferentes setores da economia para melhorar sua eficiência.
Entre as iniciativas “importadas” de outras indústrias estão a criação de metas de desempenho para médicos e enfermeiros, maior controle de custos e o uso de metodologias de otimização de processos como o Lean, tradicional na indústria automotiva.
Também se tornou comum a contratação de executivos de mercado, com experiência fora da área médica, para administrar os hospitais.
O resultado é a melhora da saúde financeira e o aumento do investimento dessas instituições.
Em 2011, a receita bruta dos hospitais privados somou R$ 9,4 bilhões, um crescimento de 20% sobre o ano anterior, segundo dados da Anahp (associação nacional de hospitais privados, com ou sem fins lucrativos).
O investimento de instituições privadas estimado para este ano é de R$ 1 bilhão.
“Com o envelhecimento da população, os procedimentos de saúde foram ficando mais complexos e caros, o que tem pressionado os custos dos hospitais e forçado a modernização”, diz Denise Schout, assessora técnica da Anahp.
Outro motivo que acelerou a tendência é a sofisticação do mercado de saúde privada no país. Com a consolidação das operadoras (de planos de saúde), surgiram grupos econômicos com “poder de fogo” para negociar com os hospitais.
Choque de gestão
Em São Paulo, o Hospital A.C. Camargo, especializado no tratamento de câncer, conseguiu reverter uma série de maus resultados financeiros após uma reestruturação iniciada em 2005.
O trabalho, liderado por Irlau Machado Filho, ex-executivo do banco Santander e do grupo de saúde Medial, começou com a renegociação da dívida do hospital, na época de R$ 30 milhões.
Em seguida, foram criadas medidas para controlar custos e, assim, estancar o sangramento do caixa, de R$ 7 milhões mensais.
“Saímos de uma cultura assistencialista para a de performance e produtividade”, diz o presidente do hospital.
Todas as atividades – da limpeza dos quartos à compra de equipamentos – passaram a ser auditadas.
Também foi criado um programa de eliminação de gastos supérfluos.”Chegamos a ter gastos de R$ 400 por ano com café e pão de queijo”, afirma Machado.
No ano passado, a receita líquida chegou a R$ 494 milhões, um crescimento de 233% ante 2005. O lucro líquido decuplicou, para R$ 113 milhões.
Com um caixa mais forte, o A.C. Camargo investiu R$ 200 milhões nos últimos cinco anos. Outros R$ 100 milhões estão previstos até o final de 2013.
Investimento
No hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, as mudanças começaram em 2009.
A instituição, que por ter caráter filantrópico atende pacientes do SUS, precisava modernizar sua estrutura física para atrair mais usuários de planos de saúdes.
“Como a tabela de remuneração do SUS está defasada há mais de dez anos, precisamos dos pacientes privados para equilibrar as contas”, conta Luiz Koiti, executivo com passagens por empresas de siderurgia e TI, contratado para liderar as mudanças.
A reformulação incluiu a criação de uma nova estrutura de comando e novos processos de gestão.
Um dos projetos usa a metodologia Lean, criada pela montadora japonesa Toyota na década de 80, para tentar reduzir o tempo de internação em áreas específicas do hospital, como a de cirurgia cardíaca.
“Conseguimos baixar o tempo médio de internação de nove para sete dias”, afirma Koiti.
Peculiaridades
Nem todas as soluções de gestão consagradas em outras indústrias funcionam na área médica, dizem especialistas.
“A gestão em saúde tem peculiaridades que devem ser consideradas”, afirma Bento dos Santos, coordenador do MBA Executivo em Saúde do Insper.
Entre elas, estão aspectos inerentes ao próprio tipo de serviço oferecido, o tratamento médico.
“Qualquer tipo de decisão tomada tem, no final, um impacto direto na vida das pessoas”, diz Santos.
Fonte: Folha de S. Paulo