Por Eduardo Ferreira Santana*
Sabemos que toda mudança gera desconforto. E tudo o que é novidade, certa desconfiança. Então quando começamos a instituir o conceito dos hospitais de transição e retaguarda no país, estávamos preparados para enfrentar o receio tanto do sistema quanto dos pacientes. Hoje nossa luta está em provar a imensa quantidade de benefícios que essas instituições são capazes de gerar.
Por aqui, os hospitais de transição estão ganhando espaço no cenário de saúde brasileiro, assim como vêm acontecendo nos EUA nas últimas décadas. E já é possível apresentar de forma mais transparente e contundente todas as vantagens do investimento em um formato de cuidado que coloca o paciente no centro de atenção ao mesmo tempo em que contribui com a redução de custos.
O Brasil tem um sistema de saúde inchado e praticamente insustentável. A inflação do setor é uma das mais altas da nossa economia e, na atualidade, a saúde já consome praticamente 10% do PIB. É preciso investir em mudanças imediatas se quisermos continuar ofertando um sistema de saúde para todos.
Dentre tantas mudanças que precisam ser iniciadas, que vão desde os modelos de remuneração até mesmo o enfoque na atenção básica, está o acesso dos pacientes a hospitais de transição que tratarão as pessoas com toda a qualidade e com todos os recursos necessários, evitando que ela se mantenha internada em um hospital de alta complexidade sem real necessidade.
Apostar nessa linha é garantir um melhor atendimento à população e, também, um maior respiro ao sistema. Pacientes com internações de longa permanência vêm ocupando leitos em hospitais de alta complexidade gerando um duplo problema: em primeiro lugar, o ambiente hospitalar ao mesmo tempo em que trata o paciente o expõe à diversas possibilidades de infecções hospitalares e é sempre benéfico garantir que ele tenha alta o mais rápido possível. Na outra ponta, o hospital está direcionando seus recursos a um paciente que não demanda tanta infraestrutura, mas ainda não está apto a voltar para casa e retomar suas atividades.
Trabalhando a desospitalização de forma extremamente segura, um hospital de transição é capaz de receber o paciente oferecendo todo o atendimento necessário para que ele complete sua reabilitação e retorne o mais rápido possível às suas atividades rotineiras. O foco não está em antecipar a alta hospitalar, mas sim em garantir que ele siga seu tratamento no melhor ambiente possível, em um espaço equipado e com uma equipe multidisciplinar provendo atenção 24 horas por dia.
Na Nobre Saúde, por exemplo, que é o primeiro hospital de transição e retaguarda do Grande ABC, em São Paulo, temos um time de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais, dentistas e assistentes sociais. Além disso, nossas instalações estão adaptadas para receber inclusive pacientes saídos diretamente da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), oferecendo todo o cuidado necessário para a continuação do tratamento hospitalar por uma curta, média ou longa permanência.
Além de todos os benefícios clínicos – e financeiros – há o foco em humanização. Em um hospital de transição, ao contrário do padrão instituído nas entidades hospitalares tradicionais, há uma hospitalidade muito mais calorosa. Os quartos não são quartos frios, típicos do ambiente hospitalar. O paciente pode personalizar o espaço, trazer fotos e detalhes que o farão sentir-se em casa.
Além disso, a família do paciente é acolhida juntamente com ele. Esses familiares também receberão a atenção devida pois reconhecemos que manter a família por perto é sinônimo de motivação e melhorias na saúde do paciente. E tendo os familiares acompanhando a recuperação, auxiliamos na criação de um núcleo familiar que amparará o paciente quando ele retornar para casa, contribuindo enormemente com a recuperação completa dele com passar do tempo. Assim, dentro da Nobre Saúde, os familiares têm acesso irrestrito.
Temos diversos casos de pacientes ainda jovens que, aos 30 ou 40 anos de idade, sofreram um AVC, passaram por um intensivo trabalho de reabilitação dentro da nossa instituição e, em menos de três meses, tinham retornado para suas casas realizando as atividades do dia a dia sem qualquer necessidade de utilização de equipamentos hospitalares.
E dentre os mitos que estamos trabalhando para derrubar, podemos explicar que hospitais de transição não são casas de repouso. Essas casas também têm seu importante papel dentro do sistema de saúde, mas não oferecem toda a infraestrutura para um paciente recém desospitalizado. Hospitais de transição, além da equipe multidisciplinar que garante a segurança do paciente, são espaços de saúde habilitados a promover a assistência especializada em cuidados paliativos e reabilitação e contam, também, com a realização de exames como hemogramas, raio X e ultrassonografia, além de outros procedimentos diversos.
Enfim, os hospitais de transição chegam não para concorrer com outros serviços que já estão adaptados ao nosso sistema. Não são concorrentes de hospitais de alta complexidade, nem de casas de repouso e não concorrem com atendimentos no formato homecare. São instituições que chegam para somar e para garantir que o paciente esteja sempre no centro da atenção e do cuidado.
*Eduardo Ferreira Santana é fundador e diretor executivo da Nobre Saúde. É o responsável pela fundação do Comitê de Jovens Empreendedores em Saúde da Fiesp e representante dos Jovens Empreendedores no Comsaúde (Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia) da Fiesp.
Fonte: Blog do Fausto Macedo/ Estadão