Investir no capital humano é essencial para o sucesso das organizações, e isso serve para empresas de todos os portes. Mas para a coach Márcia Fonseca Vieira, esta ainda é uma carência dentro das gestões.
Atuando há 20 anos na área de gestão de pessoas – muitos deles em serviços de saúde -, Márcia é psicóloga, pós-graduada em Recursos Humanos, Administração Hoteleira e Docência. Criou a “para Evoluir”, empresa que atua com desenvolvimento por meio de coaching corporativo, pessoal e de carreira, cursos e consultoria em gestão.
Confira, nesta entrevista – publicada originalmente no Jornal da FEHOESP -, a especialista falando sobre gestão de pessoas, importância do planejamento estratégico e sua atuação no segmento de clínicas.
Qual a importância da boa gestão de pessoas dentro de uma organização?
A gestão de pessoas é fundamental, considerando-se que são as pessoas que fazem a organização. As empresas que ainda consideram isso um investimento secundário ou um custo desnecessário, provavelmente não colocaram “na ponta do lápis” as perdas que se somam a cada dia, como tempo gasto na administração de conflitos, menor produtividade em razão do comprometimento mediano com resultados ou falta de treinamento, custos com demissões e posteriores admissões, apenas para citar alguns aspectos. Falando em particular da prestação de serviços, as pessoas formam o coração da empresa e descuidar dele não é uma estratégia muito inteligente.
Essa gestão deve abranger todos os níveis hierárquicos? Qual o papel das lideranças?
A gestão de pessoas é função de todas as lideranças, independentemente da posição que ocupem no organograma. Pode haver uma área responsável por organizar e gerenciar os processos, mas as ações para gerir as pessoas da equipe cabem ao líder. É este quem deve zelar pelo cumprimento da missão e valores da empresa, estimulando a equipe no alcance da visão e dos resultados, gerenciando o ambiente dentro de sua área, identificando necessidades, administrando conflitos, avaliando desempenho, provendo condições para que a equipe entregue aquilo que se espera dela. Por este motivo, a liderança deve ser exercida por pessoas que tenham competências humanas bem desenvolvidas ou interesse e potencial para desenvolvê-las. Mais ainda, precisa priorizar tempo na sua agenda para estas importantes atividades, não pode ser sobrecarregada com atividades operacionais ou demanda excessiva de trabalho.
Até que ponto investir nas pessoas e cuidar do capital humano pode fazer as empresas crescerem?
Exemplos no mercado de empresas que investem em seu capital humano e com isso ampliam seus resultados não faltam. Mas seríamos ingênuos em acreditar que este investimento é feito sem a contrapartida do aumento de performance. Precisamos entender que as pessoas só geram resultados excepcionais quando efetivamente encontram motivos para se comprometerem com a organização. E para que isto aconteça, o relacionamento entre as partes deve ser cuidado com todo carinho. Quem trabalha apenas para garantir seu salário no final do mês, só entrega resultados medianos, e uma empresa com profissionais medianos será naturalmente medíocre. É matemático, não existe mágica.
Neste contexto, o que é e como um planejamento estratégico pode contribuir para as organizações?
O planejamento estratégico é uma ferramenta para definir os passos da organização visando atingir um objetivo futuro. Por ser estratégico, ele pressupõe que sejam definidas algumas estratégias-chave para se alcançar o resultado previsto e, a partir destas, um plano de ação que estabeleça os passos a serem dados. Isto é fundamental para o crescimento organizado da empresa e para que ela se destaque no mercado, pois norteia não só as ações dos sócios como da liderança e da equipe. Por si só, não é garantia de sucesso para a organização, mas certamente é parte fundamental deste. Cada organização pode e deve fazer seu planejamento estratégico conforme sua realidade. Empresas maiores requerem métodos mais complexos, já empresas menores podem trabalhar com ferramentas mais simples.
Você tem grande experiência como gestora na área de clínicas. Quais são as peculiaridades deste segmento?
Muitas clínicas ainda possuem uma gestão não profissionalizada, muito mais focada nas competências técnicas dos profissionais do que nas competências gerenciais e humanas. Por lidar com saúde, há uma dificuldade de alguns atores envolvidos, médicos, colaboradores de apoio, pacientes e até sócios, em entender que uma clínica é um negócio como qualquer outro, que precisa ser administrado para prestar serviços de qualidade e gerar lucro. Por serem empresas de pequeno e médio porte, muitas clínicas consideram pessoas essencialmente como custo. Não se dão conta do dinheiro que perdem e deixam de ganhar com a falta de um processo organizado de seleção, integração, treinamento e desenvolvimento, e com a ausência de um planejamento estratégico norteando suas práticas.
Fonte: Comunicação FEHOESP
Foto: Neuza Nakahara