Para TST, plano de demissão voluntária não é iniciativa exclusiva da empresa
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) concluiu que o trabalhador que aderir a um plano de demissão voluntária (PDV) não tem direito ao seguro-desemprego. A decisão foi tomada na semana passada durante o julgamento de um processo contra o antigo Banespa, pela Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1), responsável por uniformizar o posicionamento das turmas do TST.
Depois de uma onda de PDVs na década de 90 – quando empresas públicas reduziam seus quadros para serem privatizadas e grandes companhias diminuíam gastos para se tornarem mais competitivas – ex-empregados começaram a entrar na Justiça do Trabalho questionando aspectos relacionados a esses planos.
Um deles é a recusa das empresas em fornecer as guias de seguro desemprego, exigidas pelo governo para pagar assistência temporária a quem é demitido. O seguro desemprego é custeado com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Diversos trabalhadores processaram seus antigos empregadores pedindo indenização em valor igual ao do seguro, já que as empresas se recusaram a fornecer as guias.
A visão de que os PDVs não geram direito ao seguro desemprego já era majoritária nas turmas do TST. Mas a questão ainda não havia sido analisada pela SDI-1. Parte da discussão é se o PDV caracteriza ou não demissão sem justa causa – situação que acarreta o pagamento do seguro desemprego.
Na defesa do Banespa, o advogado trabalhista Victor Russomano Júnior argumentou que, nos programas de demissão voluntária, a rescisão contratual não é uma iniciativa exclusiva do empregador. Portanto, não poderia ser classificada como demissão sem justa causa para acarretar o direito ao seguro. Há uma confluência de vontades visando ao fim do vínculo de emprego, então não se pode cogitar de rescisão sem justa causa, diz Russomano. Como não é o empregador que põe fim ao contrato sozinho, o seguro desemprego não é devido.
A SDI-1 aceitou os argumentos do banco por maioria, vencido o ministro José Roberto Freire Pimenta. Para o advogado Daniel Chiode, do Fleury Malheiros, Gasparini, De Cresci e Nogueira de Lima Advogados, a decisão garante maior segurança jurídica às empresas e evita o uso, para outros fins, de recursos destinados a cumprir uma função social – amparar trabalhadores desempregados até que se restabeleçam no mercado de trabalho.
Seria incoerente dar mais dinheiro a quem aderiu a esses planos e recebeu pacotes atraentes, diz Chiode. O seguro-desemprego é feito para cobrir um risco, nas hipóteses de desligamento involuntário, diz. Segundo ele, o PDV envolve a manifestação da vontade do empregado de ser demitido, recebendo para isso um plano de benefícios.
Outro questionamento comum na Justiça em torno dos planos de demissão voluntária envolve as cláusulas de quitação integral do contrato de trabalho – pelas quais o ex-empregado concorda em não questionar a relação de emprego no Judiciário. O TST já editou a Orientação Jurisprudencial nº 270, segundo a qual a quitação vale somente para parcelas e valores mencionados expressamente na rescisão. Ou seja, o trabalhador ainda pode discutir outras diferenças na Justiça.
Fonte: Relações do Trabalho/Valor Econômico