Um equipamento de proteção individual (EPI) específico para profissionais de saúde, com proteção hidrorrepelente e antimicrobiana, está sendo testado pelo Laboratório de Genética Molecular do Câncer (Gemoca), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O traje não possui costuras ou locais abertos que ofereçam risco de contaminação química e biológica. O tecido utilizado tem acabamento nanotecnológico e, por isso, não esquenta e permite a perspiração. Além disso, uma viseira de policarbono adequada à circunferência craniana foi projetada para proporcionar mais conforto.
“Graças à nanotecnologia empregada, o tecido desse EPI proporciona conforto igual ou superior àqueles utilizados na fabricação de roupas comuns, já usados em hospitais, como jalecos e uniformes de centros cirúrgicos”, explica a médica endocrinologista Laura Sterian Ward, responsável pelo Gemoca da Unicamp.
A vestimenta testada na Unicamp é um projeto da empresa EPI Saúde, uma das startups da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, da Agência de Inovação Inova da Unicamp. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp. O projeto é dividido em três etapas e inclui testes de usabilidade e de análises microbiológicas, realizados com o apoio da Enfermaria de Moléstias Infecciosas (EMI) e do Laboratório de Patologia Clínica (LPC), do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade.
A primeira etapa do projeto é um estudo de custo-utilidade, realizado a partir de um questionário de avaliação de usabilidade, aplicado com a equipe de enfermagem da EMI do HC. A segunda etapa adequa a vestimenta para atender necessidades específicas de trabalhadores da área da saúde, com a possibilidade de automatização do processo de fabricação da vestimenta e acessórios, e desenvolvimento de novos produtos, como roupas de cama, por exemplo. A terceira e última fase inclui a análise microbiológica e contagem bacteriana da parte interna do tecido.
Laura Ward explica que a análise da atividade antimicrobiana do tecido leva em consideração os aspectos bactericida e bacteriostático da roupa, que se referem à capacidade do tecido para eliminar e inibir o crescimento de bactérias. “Amostras dos tecidos deverão ser testadas qualitativamente para a atividade antibacteriana, a partir do método laboratorial conhecido como AATCC 147 e empregado em produtos têxteis. As amostras que apresentam atividade bacteriana são avaliadas quantitativamente, com a introdução de microorganismos, eluição por agitação em solução neutralizante e cálculo do número de bactérias”.
O traje está sendo testado para as bactérias que podem causar desde uma simples infecção, como espinhas e furúnculos, até doenças mais graves, como pneumonia, meningite, infecção urinária de difícil controle e septicemia. No entanto, Laura Ward explica que a maior inovação proposta pela EPI Saúde é o design de um traje específico para os profissionais de saúde. “Nosso foco é a usabilidade. A inovação não está na roupa em si, mas no fato de propor trajes de proteção adaptados às necessidades desses profissionais”, enfatiza.
Realidade e potencial
Calças, jalecos, luvas, viseiras e outros EPIs não apenas devem estar disponíveis aos trabalhadores, como também devem ser adequados aos diferentes ambientes e riscos, além de proporcionar conforto térmico e mobilidade. Uma vez hidrorrepelente e antimicrobiano, e ajustado às necessidades específicas da área de saúde, o EPI desenvolvido na Unicamp tem considerável potencial de mercado.
“Temos no Brasil cerca de 1,4 milhão de profissionais envolvidos nas atividades de prestação de serviços de saúde à população, e praticamente nenhuma empresa que ofereça EPI com essa dupla funcionalidade. Temos um mercado praticamente inexplorado”, explica Laura.
A coordenadora do Gemoca da FCM pondera que, embora existam no mercado vestimentas de proteção de diferentes materiais e propriedades, elas são pouco adequadas aos variados ambientes e riscos presentes no meio hospitalar. É o caso do avental branco, utilizado por médicos e demais profissionais de saúde, há mais de 100 anos.
De acordo com Laura, embora o avental branco seja reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como equipamento de proteção individual, ele serve muito mais como instrumento de identificação profissional, do que de proteção.
Dados recentes de uma pesquisa realizada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) num hospital-escola do interior do Estado de São Paulo mostraram que 95,83% dos jalecos utilizados por 98 alunos e médicos-residentes apresentavam algum tipo de contaminação.Muito embora a Norma Regulamentadora nº 32, do Ministério do Trabalho, reconheça a necessidade de uso de vestimenta de proteção individual pelos trabalhadores da área de saúde, Laura Ward considera que as recomendações contidas no texto são antigas e vagas, tanto no que se refere à segurança do equipamento, quanto ao design mais adequado.
“Mesmo existindo uma lei que proíbe o uso desses trajes fora de hospitais, clínicas e laboratórios, na prática ela não é obedecida e pouco se comenta sobre o assunto. O que observamos, frequentemente, é o profissional saindo do meio hospitalar com as vestimentas de serviço, levando para sua própria casa e para outros ambientes os agentes infecciosos aos quais esteve exposto no trabalho. O uso de EPIs está mais consolidado na área agrícola, e pouca ênfase tem sido dada à qualidade desses equipamentos na área da saúde”, afirma.
O diretor da EPI Saúde, Paulo Formagio, explica que o uso de equipamento de proteção com tecido hidrorrepelente no setor agrícola já está normatizado e é obrigatório há muitos anos, mas que a área de saúde ainda não conta com produtos adequados de proteção individual, muito embora ofereça mais riscos de contaminação.
“São profissionais que manipulam pacientes infectados, que realizam funções laboratoriais no trato com agentes infecciosos, que utilizam técnicas microbiológicas ou relacionadas à biotecnologia, que administram medicamentos quimioterápicos, substâncias
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