Prestadores de serviços, operadoras de planos de saúde e a academia. Todos reunidos numa mesma sala para compartilhar e divergir opiniões sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Este foi o tom do Saúde Business Debate, evento promovido pela IT Mídia na manhã desta quarta-feira, 28 de maio, na sede do grupo, em São Paulo.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, que optou por manter um sistema de saúde público de acesso universal, os desafios são imensos para se atingir a equidade. Principalmente por conta do subfinancimento, e dos problemas de gestão, que emperram o acesso da população já na ponta do atendimento, a atenção básica de saúde.
Convidado a compor a mesa de debates, o presidente do SINDHOSP e da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr, destacou a questão ideológica por trás de muitas cabeças que comandam o sistema público. “Há pessoas do governo que condenam a existência da iniciativa privada na saúde. Mas, quando falamos em economia da saúde pública, não estamos falando apenas de saúde pública. Existem os hospitais privados que atendem ao SUS. E se quisermos atender bem ao paciente, temos que abrir diálogo e interação”, enfatizou. Em sua visão, o país precisa construir um sistema nacional de saúde que, efetivamente, integre a iniciativa privada nas políticas públicas, principalmente porque ela tem deixado exemplos de boa gestão.
Para Marília Louvison, professora doutora da Faculdade de Saúde Pública da USP, o SUS deve ser soberano das políticas, mas precisa sim abrir diálogo com a iniciativa privada. “Optamos por ser um Estado que oferece, sim, bem-estar social, em particular a populações vulneráveis. E os sistemas universais públicos precisam ser regulados pelo público. Mas quando se fala que precisa de diálogo com a iniciativa privada, eu concordo. Infelizmente hoje vivemos uma competição entre o público e o privado no que diz respeito a acesso, e superar isso é um desafio imenso”.
Experiências internacionais, segundo Marília, de países que também fizeram a opção por um sistema universal – como Inglaterra, Canadá e Austrália – , mostram que é preciso mudar toda a política de saúde, a começar pela formação. “Não formamos profissionais de saúde para esse SUS que se quer construir. O interesse privado e individual interfere no público sem pedir licença”, afirmou.
Para Arlindo Almeida, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), o sistema público é fundamental e deveria ser responsável pela maioria dos gastos em saúde. “O Governo federal baixou seus investimentos na saúde ao longo dos anos, o que vai na contramão dos governos ao redor do mundo, que financiam cerca de 70% da saúde. O Brasil vive uma aberração”, disse.
Em relação às Organizações Sociais de Saúde (OSS) – modelo de parceria entre público e privado que mais tem se proliferado nos últimos anos – , a professora Marília reconhece que muitos parceiros tem traçado modelos inovadores. “O problema é quando a lógica privada invade e interfere na produção do público. Na atenção primária, por exemplo, quando se contrata um parceiro privado sem saber o que se quer, há muito dificuldade de se gerir o serviço. Estabelecem-se metas e número de visitas, mas o que estamos produzindo?”, questionou.
Para Yussif, as Organizações Sociais são mais terceirização que parceria. E é preciso analisa-las com cautela. “Podemos cair de novo no mesmo problema das Santas Casas”. As Parcerias Público-Privadas, estas sim, podem ser um modelo mais adequado às necessidades do sistema de saúde, na opinião do presidente do SINDHOSP. Marília concordou: “O grande desafio é que tenhamos um SUS que acolha a iniciativa privada com transparência e competência técnica”.