Já parou para pensar o quanto de informação se perde pelos corredores do hospital? Ou melhor, o quanto os médicos, enfermeiros e demais profissionais não se comunicam de maneira a garantir a segurança do paciente? Se o desencontro ainda acontece em instituições com processos informatizados, agora imagina sem?
Medicamentos administrados, procedimentos realizados, todos os cuidados a serem compartilhados pelas equipes do Hospital de Câncer de Barretos eram registrados em papel ou aconteciam no boca a boca. Ciente das falhas na assistência que podem ocorrer neste cenário e sob a forte diretriz pela humanização, o departamento de TI do hospital inseriu, em julho deste ano, um módulo ao sistema de gestão a fim de assegurar que o atendimento ao paciente internado seja feito de acordo com a prescrição digital médica e de enfermagem. Para isso, os profissionais passaram a usar equipamentos móveis com leitores de código de barras à beira do leito.
“A diminuição na margem de erro é o aspecto principal e essa implementação representa um salto audacioso para uma instituição deficitária como a nossa”, afirmou o diretor geral do Hospital de Câncer de Barretos, Henrique Prata, ao detalhar um prejuízo mensal de R$ 5 milhões.
Passado o desafio de quebrar as resistências dos colaboradores e integrar as áreas de enfermagem, farmácia e médica, a medicação é agora prescrita por meio do sistema, que sinaliza a farmácia para a dispensação do medicamento que, em seguida, será administrado por um enfermeiro apenas após a conferência eletrônica do nome do paciente, remédio a ser aplicado, assim como a via, a dose e o horário. Além disso, o sistema registra o nome do profissional que realizou todas as identificações. Esse conjunto de regras, por enquanto, está sendo adotado no andar cirúrgico, clínico e no hospital infantil, mas será replicado em outras áreas.
“Somente após conferência, o uso da medicação é liberado. O grande objetivo é garantir maior segurança e qualidade ao paciente bem como evitar o extravio de medicamentos, que quando não aplicados devem ser devolvidos à farmácia em caixa lacrada para consistência do aplicado versus devolvido por paciente”, explicou o gerente de TI do hospital, Alexandre Covello.
A solução, que custou cerca de R$ 120 mil, visa ainda o controle de todas as atividades do enfermeiro junto ao paciente, como aferição de sinais vitais, gases medicinais, entre outros, com tudo conferido e avisado pelo sistema, evitando o esquecimento de algum cuidado vital em determinado horário.
De acordo com Covello, os resultados necessários estão sendo alcançados, incluindo a garantia de que nenhum cuidado ao paciente deixará de ser executado devido ao painel de controle com alertas em cores distintas que avisa caso algum procedimento não tenha sido feito na data e hora prevista, legibilidade de todas as prescrições médica e de enfermagem e a garantia da segurança do paciente com a checagem realizada à beira do leito.
Diferente do que os enfermeiros pensavam, segundo o gerente de TI, houve melhoria no tempo de atendimento e apontamento mais rápido das atividades do dia. Outro desafio foi em relação às adequações dos equipamentos de informática para garantir a checagem no leito, dada a limitação de espaço para passar com o carrinho com o leitor de pulseiras dos pacientes. Covello conta que a dificuldade foi superada com a utilização de tablets com leitores de código de barras acoplados no equipamento.
Apesar das dificuldades em manter o equilíbrio financeiro, o Hospital de Câncer de Barretos soma conquistas como a acreditação ONA II, e o reconhecimento pelo trabalho assistencial humanizado e de pesquisa na área oncológica.
Prata confessa que os investimentos tecnológicos, muitas vezes, não são prioritários, mas acontecem quando representam um diferencial real no cuidado ao paciente, e que a transposição dos obstáculos acontecem “tendo coragem e honestidade de oferecer igualdade para todos. Temos orgulho de apresentar a mesma qualidade de projetos privados na medicina pública. É um caminho de persistência na humanização”.