Os resultados de um estudo inédito no Brasil podem contribuir para uma reavaliação a respeito da internação de pacientes oncológicos em UTI, procedimento visto por muito tempo como desnecessário, diante da sobrevida supostamente limitada dessas pessoas.
O trabalho foi resultado de um estudo colaborativo nacional e foi coordenado em conjunto pelo intensivista Luciano Azevedo, pesquisador do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa e pelos intensivistas Marcio Soares e Jorge Salluh, do Programa de pós-graduação do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Os resultados mostram que a sobrevida de pacientes oncológicos que recebiam ventilação mecânica em UTI pode chegar a 50%. Esse percentual é similar ao de pacientes não oncológicos internados em UTIs com complicações graves de outras doenças, como complicações cardíacas e pulmonares. Com isso, o tempo de permanência nas áreas de terapia intensiva entre os pesquisados foi de aproximadamente 10 dias, período semelhante ao de outros tipos de internações.
Os dados acabam de ser divulgados na Revista Chest, importante publicação científica americana. Foram pesquisados 263 pacientes com câncer, num estudo colaborativo entre diversos pesquisadores brasileiros em 28 UTIs nacionais e que contou com apoio da FAPERJ, Inca e CNPq. O estudo fez parte do programa de pós-graduação em oncologia do InCa. “Em nosso estudo, os pacientes que apresentavam tumores controlados, sem metástase e que apresentavam boa funcionalidade tiveram taxas de sobrevida semelhantes às apresentadas por pacientes não oncológicos internados nas mesmas condições. A grande contribuição dos resultados é desmistificar o conceito de que um paciente com câncer não se beneficiaria de internação na UTI, pois seu risco de morrer seria muito elevado. Os resultados mostram que o câncer não é mais um fator de pior prognóstico para pacientes com as características analisadas pela pesquisa”, afirma Azevedo.
O estudo fornece ainda mais instrumentos para a equipe médica traçar em conjunto com os pacientes e seus familiares o melhor plano de tratamento. “Nosso estudo ajuda a quebrar um paradigma, na medida em que demonstramos que, se o paciente tem uma boa funcionalidade e se o tumor não está em rápida progressão, sua evolução não difere de forma significativa de um paciente sem câncer internado na UTI. Por outro lado, nosso estudo também demonstra que se o paciente tem um tumor avançado, com metástases, por exemplo, a chance desse paciente se beneficiar de uma internação em UTI é muito pequena.”, finaliza o pesquisador.