Médicos afirmam que conscientização sobre riscos à saúde do bebê não é suficiente para que elas larguem o vício. Mãe conta que evitava fumar na rua durante a gravidez, por vergonha, mas mesmo assim não parou com o cigarro
Elas podem estar carecas de saber dos males que o cigarro pode causar no bebê, mas não adianta. Segundo uma pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, uma em cada dez grávidas fuma.
Os dados foram obtidos a partir de entrevistas com cerca de 5.000 mulheres que deram à luz na maternidade estadual Interlagos, na zona sul da capital paulista.
Para Roberto Stirbulov, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o índice é considerado alto por causa da gravidade dos danos que o fumo na gravidez pode causar para a gestante e para o bebê.
Entre os riscos estão baixo peso, parto prematuro, aborto e menor desenvolvimento do sistema nervoso central, o que pode significar retardo psicomotor.
Hoje, no Brasil, 12,7% das mulheres fumam, segundo a pesquisa Vigitel 2010, do Ministério da Saúde.
Segundo o pneumologista, a prevalência média nacional de grávidas fumantes é semelhante à do levantamento feito em São Paulo, mas há diferenças regionais.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, esse índice chega a 23% em algumas cidades. No Canadá, a média é de 10%.
Dependência
Rita de Cássia Silva Calabresi, diretora clínica da maternidade estadual Interlagos, diz que a conscientização sobre os malefícios do cigarro nem sempre é suficiente para o abandono do vício. “Consciência todas têm, mas parar de fumar não é só força de vontade. Se a gestante recebe apoio dos médicos, sente-se mais forte para deixar o cigarro”, diz Calabresi.
Stirbulov afirma que a intervenção, apesar de não ser fácil, deve ser proposta. “Há medicamentos que podem ser usados, como o adesivo de nicotina. Não é que não faça mal, mas é melhor que o cigarro e combate a síndrome de abstinência.”
Início precoce do fumo, baixa escolaridade, fumo pesado e exposição ao cigarro em casa ou no trabalho aumentam a chance de a mulher continuar a fumar durante a gravidez.
A empresária M. B., 29, de São Paulo, fuma desde os 15. Tem duas filhas, de três anos e outra de dez meses, e fumou durante as duas gestações. “Quando engravidei, tentei diminuir, mas não pensei em parar. Tinha certeza de que não ia conseguir.”
Ela disse que sabia dos riscos e conversou com a sua médica, que liberou até cinco cigarros por dia, caso não conseguisse parar. “Eu fumava de sete a dez cigarros por dia. As pessoas olhavam estranho para mim. Eu até evitava fumar na rua, por vergonha”, conta.
Stirbulov, porém, afirma que a redução do número de cigarros por dia não é uma boa estratégia, a não ser que faça parte de um plano de cessação completa do fumo. “A pessoa pode ir reduzindo e marcar uma data para parar de vez. Quem simplesmente reduz logo volta para o número inicial de cigarros.”
Os especialistas acreditam que as campanhas antifumo deveriam incluir as grávidas. “Tem gestante que não para de fumar por medo de engordar. Infelizmente, fala-se muito pouco dos prejuízos do fumo e do álcool na gravidez”, diz o médico.
Fonte: Folha de S. Paulo