Preços da saúde disparam

Inflação de serviços médicos e odontológicos, de convênios e de exames acumula alta de 8,76% desde o início do ano em Brasília. É o maior percentual registrado em todo o país. Laboratórios, hospitais ...

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Inflação de serviços médicos e odontológicos, de convênios e de exames acumula alta de 8,76% desde o início do ano em Brasília. É o maior percentual registrado em todo o país. Laboratórios, hospitais e dentistas aplicaram os reajustes mais pesados

O aumento dos custos com saúde está castigando o bolso dos brasilienses. Desde o início do ano, Brasília foi a capital com a mais alta inflação neste segmento, que inclui serviços como atendimento médico e odontológico, procedimentos laboratoriais e planos de saúde. De janeiro a outubro, os preços subiram em média 8,76%, contra uma média nacional de 6,8%. A capital federal é seguida por Belo Horizonte, Goiânia, Rio de Janeiro e Fortaleza, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a inflação nas principais capitais brasileiras (veja ranking).

De acordo com o IBGE, foram os serviços laboratoriais e hospitalares que mais se destacaram frente às demais capitais pesquisadas, com variações de 12,56% e 10,55%, respectivamente. Também registrou alta elevada o atendimento prestado pelos dentistas, que reajustaram seus preços em 10,55%. Para se ter uma ideia do aumento nos preços que compõem a cesta de saúde, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registra até outubro alta acumulada de 5,43%.

Os gastos com saúde consomem em média 10,8% do orçamento dos brasileiros. Significa dizer que uma família com renda mensal de R$ 5 mil, por exemplo, gastaria até o fim do ano passado em média R$ 540 por mês com médicos, dentistas e convênios. Se aplicada a inflação de 8,76%, esse gasto mensal subiria para R$ 587,30, o equivalente a 11,7% da renda. Ou seja, sem aumento de salário, a inflação da saúde seria responsável por comer 1% da renda familiar.

A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Julia Braga explica que a variação dos preços tem influência nos aumentos dos preços de medicamentos. “Não significa necessariamente que o preço dos remédios subiu muito. O que acontece é que o peso deles é muito significativo dentro deste grupo. Como não podem ser dispensados, qualquer alteração nos valores mexe no índice como um todo”, afirma.

Dentro da cesta de itens que sofreram reajustes estão listados tanto os que são livres para determinar o valor a partir da demanda do mercado – como serviços médicos e odontológicos, por exemplo -, quanto os limitados pelo governo, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS): remédios e planos de saúde.

Em alta
A fisioterapeuta Cláudia Pereira, 47 anos, tem um convênio particular, mas mesmo assim precisa pagar pelas consultas com alguns especialistas. “Eu tenho a saúde muito boa, então é um gasto que não pesa tanto no meu orçamento. Mas, mesmo assim, cada vez que preciso de um médico de confiança, pago por fora. Por atendimento são R$ 260, o que eu considero caro”, reclama. Quando vai ao dentista, a situação se repete. “Não dá para escolher alguém do plano, sem indicação. Vou em quem eu confio, alguém que tenha experiência, então também preciso tirar do bolso. O convênio serve para dar segurança e para atendimento na emergência, o que raramente acontece.”

Apesar do aperto no orçamento, a auxiliar de educação Aparecida Vicente, de 50 anos, diz não ter como escapar dos reajustes. “Eu sei que aumentou porque pago todo mês o meu plano de saúde e ainda vou em médicos fora do convênio. Você chega à rede privada e não tem pediatra, o que você pode fazer além de se sujeitar a pagar o preço?”, questiona.

Professor da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos explica que todo o setor de serviços, de maneira geral, tem sofrido visivelmente com os impactos da inflação. “Nesse caso, o único influenciador do preço é o mercado interno, a demanda da população. Não há como importar esse tipo de atendimento se o preço subir aqui e cair em São Paulo, por exemplo”, afirma o economista.

De acordo com Ramos, como a renda per capita de Brasília é alta e formada, em grande parte, por funcionários públicos, a economia local também não está tão sensível ao ciclo de crise macroeconômica e às mudanças no cenário internacional como estaria se fosse uma região industrial. “Somam-se a isso o aumento natural da procura, já que a população está envelhecendo, e o aumento de empregos formais. Quando os profissionais passam a ser formalizados, eles também ganham acesso a planos de saúde privados”, reforça o professor. Por esse motivo, o especialista considera razoável que os reajustes da saúde superem a média da inflação.

Índice
Em julho, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fixou em 7,69% o índice máximo de reajuste para os planos de saúde médico-hospitalares individuais/familiares contratados a partir de janeiro de 1999. O percentual incidiu sobre os contratos de cerca de 8 milhões de consumidores, ou seja, 17% dos usuários no Brasil.

Palavra de especialista

Perfil local
“O que pode pressionar a inflação da saúde são os serviços locais, principalmente o atendimento médico. Nesse caso, quem define os preços são as características de cada cidade, que vão além da concorrência, da especialização ou da demanda. Entram na conta os preços do aluguel do consultório ou da mão de obra, e nós sabemos o quanto esses custos são altos no DF. Além disso, como o brasiliense tem uma renda elevada, ele é mais permissivo com os aumentos. Está disposto a pagar. O que não ocorre em outras capitais, que possuem crescimento econômico menor.

José Ricardo da Costa e Silva, professor de economia do Ibmec

Fonte: Correio Braziliense

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