As operadoras de planos de saúde, que já atendem um quarto da população brasileira, escolheram o Rio de Janeiro como alvo de investimentos pesados na criação ou ampliação de rede própria. Essa movimentação, que tomou fôlego este ano, inclui a compra de quatro hospitais e a construção de outros seis na capital fluminense.
Na prática, está em curso um fenômeno que os especialistas chamam de verticalização da saúde – quando a iniciativa privada passa a ter controle dos serviços de saúde, como pronto-atendimento, consultas, exames, internações e cirurgias. Esse fenômeno se estende à maioria das grandes cidades brasileiras. A diferença é que, no Rio, os planos de saúde estão dando as cartas. E não faltam motivos: 55,6% da população do Rio tem plano de saúde, mas, entre 2002 e 2009, a capital perdeu 892 leitos de internação particular.
Foco
A Amil, que havia comprado o Pró-Cardíaco, adquiriu o Samaritano – ambos referência em qualidade – e anunciou a construção de um complexo com 395 leitos. A Unimed Rio inaugurou duas unidades e constrói outras três. O Grupo Memorial, cujo foco é a classe C, comprou dois hospitais e uma clínica – são 8 hospitais próprios, 4 pelo sistema de franquia e 31 clínicas.
“Esse processo de verticalização na saúde brasileira, como ocorreu na americana, prejudica o atendimento, pois o acesso a todos os serviços passa a ser calibrado pelas empresas”, diz Ligia Bahia, professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Iesc/UFRJ).
Ela lembra que, além dos planos, a Rede D”Or também caminha para essa verticalização – são 6 hospitais próprios, 15 associados e rede laboratorial, além do anúncio da construção de um hospital voltado para a classe A. O grupo fez parcerias com empresas como Bradesco Saúde e Golden Cross, com a criação de planos para serem preferencialmente usados nos hospitais da rede. Em 2010, dos 60 mil novos clientes da Golden Cross, no Rio, 20% foram atraídos por esse produto.
O superintendente-geral da Unimed Rio, Walter Cesar, diz que a opção pelo investimento na rede própria é garantir leitos para os clientes do plano e desafogar emergências – das cinco novas unidades, três são de pronto-atendimento (PA). “O primeiro PA foi inaugurado em outubro, na Barra. São 9 mil atendimentos/mês e o tempo médio de espera não ultrapassa 40 minutos. Nosso cliente não compete com os de outros planos. Esse modelo também traz a racionalização de custos. Nos hospitais contratados, o índice de internação é de 6%; no PA, cai para 1,5%. São internações que se consegue evitar, seguindo o protocolo estabelecido.”
Para Ligia Bahia, o modelo adotado por essas empresas, centrado no atendimento de emergência, está “ultrapassado”. “Quando as emergências lotam e os pacientes crônicos agudizam, é porque as pessoas não estão recebendo atendimento integral.”
A advogada Melissa Areal Pires, especialista em direito à saúde, afirma que há risco maior para o consumidor quando a empresa que vende o plano também administra os serviços. “É preciso levar as queixas aos órgãos de Defesa do Consumidor.”
O diretor-presidente da ANS, Mauricio Ceschin, diz que o órgão tem sido mais rigoroso com as empresas com rede própria, tornando obrigatório para essas operadoras o Programa de Qualificação, opcional para planos com rede credenciada. “As operadoras verticalizadas têm recebido um olhar mais atento”, disse. A ANS, porém, não tem um ranking das queixas contra as operadoras de planos de saúde.
Para lembrar
A investida das operadoras de planos de saúde em São Paulo é mais tímida que no Rio – destaca-se a compra, pelo Grupo Amil, do Hospital Nove de Julho. O outro negócio de vulto – a compra do Hospital São Luiz – foi feito por um grupo privado carioca, a Rede D”Or. Para evitar o assédio, os dois maiores hospitais privados de excelência do País – o Israelita Albert Einstein e o Sírio-Libanês – investiram em novas unidades-satélite na capital.
Fonte: O Estado de S. Paulo