O museu que guarda a história da medicina

Documentos e objetos raros, como a Roda dos Expostos, fazem parte do acervo de 7,5 mil peças da Santa Casa de Misericórdia, aberto ao público na região central

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Documentos e objetos raros, como a Roda dos Expostos, fazem parte do acervo de 7,5 mil peças da Santa Casa de Misericórdia, aberto ao público na região central

O Museu da Santa Casa de Misericórdia, em Santa Cecília, no centro, ganhou duas salas para abrigar seu acervo de 7,5 mil peças – as mais antigas, datadas do século 18. Os espaços guardarão objetos que ajudam a contar a história da primeira instituição de saúde da capital, onde fica o maior hospital beneficente da América Latina, com 8 mil leitos. Na área da antiga clausura de freiras (até pouco tempo atrás proibida para visitação), as salas agora mostram acervo do ortopedista Waldemar de Carvalho Pinto Filho. São 730 peças, entre elas um dos primeiros aparelhos de raio X do País, da década de 1920, e uma mesa cirúrgica de 1924. A Expedição Metrópole esteve no local, aberto para visitação em setembro, e conferiu também as atrações das outras oito alas do museu.

O próprio caminho que conduz o visitante à ala recém-inaugurada já serve como atração: do corredor localizado em um terraço no segundo andar do Hospital Central, antes fechado até para funcionários da instituição, é possível apreciar vista inédita do prédio de estilo gótico e tijolos aparentes, inaugurado em 1884 com projeto do escritório do arquiteto Ramos de Azevedo. A área será apontada como “o mais novo cartão-postal” da Santa Casa.

“Nesta nova fase, queremos atrair mais visitantes a um museu que nem todos na cidade conhecem. Embora não seja a atividade principal do hospital, temos acervo raríssimo, que conta a evolução da Medicina em São Paulo por meio de objetos utilizados no dia a dia da irmandade, instalada na capital há mais de 400 anos”, disse o provedor (presidente) da Irmandade da Santa Casa de São Paulo, Kalil Rocha Abdalla. “Além das novas salas, estamos providenciando uma área para reserva técnica, para que os objetos expostos possam ser mais bem selecionados e para podermos aceitar mais doações.” Até o fim do ano, o museu entrará no roteiro oficial do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

Acervo – A ala mais procurada do museu – que recebe cerca de 30 visitantes por dia, principalmente estudantes de Medicina e Farmácia – é a dedicada ao acervo médico. São 1.800 peças, incluindo um grampeador metálico para cortes cirúrgicos, macas de palha da década de 1920, balança pediátrica do século 19, máscaras para anestesia geral feitas de metal.

“Mas o que mais intriga o visitante fica em um dos cantos: olha ali aquela máquina”, aponta a mordomo (diretora) do museu, June Locke Arruda – ela se refere a objeto de 1,5 metro de altura e 100 quilos, que lembra uma balança de cargas. Mas servia apenas para retirar ciscos dos olhos. “Era usado para tirar pequenos pedaços de metal dos olhos de metalúrgicos e outros trabalhadores das indústrias”, completa o vice-mordomo, Décio Cassiani Altimari.

A ala da farmácia antiga – toda decorada com armários de 1883, executados pelo Liceu de Artes e Ofícios – revela métodos já desaparecidos. Um dos exemplos é o teste de gravidez Galli-Manini, realizado com auxílio de um sapo – a urina da mulher era injetada no animal: se o sapo produzisse espermatozoides, a gravidez estaria confirmada. A ala possui cerca de 700 objetos dos primórdios das farmácias na cidade, como vidros de remédios de 1820 com rótulos de letras banhadas a ouro.

Na sala ao lado está uma das atrações mais procuradas: a Roda dos Expostos – móvel que por 125 anos (entre 1825 e 1950) recebeu crianças abandonadas. Enquanto funcionou, 4.696 crianças foram deixadas dentro da roda – que tinha saída para a rua -, para serem recebidas no orfanato da instituição. Os nomes das crianças estão registrados em 18 livros.

Revolução de 32 – A pinacoteca do museu é outro destaque: 190 quadros de pintores como Tarsila do Amaral, Benedito Calixto, Oscar Pereira da Silva e Almeida Junior forram paredes de três salas, retratando benfeitores da casa. Documentos e objetos históricos, como capacetes usados por soldados atendidos na Santa Casa durante a Revolução de 1932, também podem ser encontrados. “Queremos continuar com nosso papel didático, atendendo estudantes, mas também diversificar o público. Visitantes não familiarizados às Ciências Médicas ficam extasiados com as histórias que revelam esse acervo”, resume June.

O museu fica na Rua Doutor Cesário Mota Júnior, 112, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas. A entrada é gratuita. Mais informações no site www.santacasasp.org.br/museu.
 

Fonte: O Estado de S. Paulo

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