O grupo farmacêutico suíço Novartis vai finalmente tirar do papel o projeto de uma fábrica de vacinas em Pernambuco. A unidade deve custar US$ 300 milhões e será o maior investimento da empresa no País. A fábrica foi anunciada pela companhia em 2007, e deveria entrar em operação em 2012. Mas o projeto ficou parado e só foi retomado este ano.
O motivo para o atraso foi a complexidade tecnológica do empreendimento, afirmou o presidente da Novartis Brasil, Alexander Triebnigg. “Não é fácil viabilizar um plano de negócios para uma fábrica de vacinas de biotecnologia”, disse. A unidade pernambucana, que deve ficar pronta em 2014, será a primeira de uma farmacêutica global a produzir medicamentos biotecnológicos na América do Sul.
A nova fábrica foi alvo de uma disputa entre os países emergentes. “Atrair um investimento é uma verdadeira luta. Nenhum país ganha uma fábrica de graça”, diz Triebnigg. A favor do Brasil pesou a estabilidade da economia, o posicionamento do País em relação à proteção de propriedade industrial e os projetos do governo para a saúde pública. “Nenhum líder de uma empresa multinacional consegue superar isso em outro Bric”, disse.
O executivo ressaltou que a empresa tem condições de financiar o projeto com recursos próprios, mas admitiu que está em negociações para captar crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Novartis também está em conversas com os governos estadual e federal para receber incentivos fiscais.
O Brasil superou recentemente Canadá, Inglaterra e a Itália e se tornou o sexto maior mercado da Novartis. O grupo já tem quatro fábricas no País – em Cambé (PR), Taboão da Serra (SP), São Paulo (SP) e em Rezende (RJ).
A divisão de vacinas é uma das mais novas. A Novartis entrou neste mercado apenas em 2006, após aquisição da Chiron. Hoje, é a quinta maior fabricante de vacinas do mundo e possui medicamentos para prevenir cerca de 20 doenças. O tipo de vacina que será produzido no Brasil ainda não foi anunciado pela empresa.
Em 2010, a receita líquida do segmento de vacinas e diagnósticos somou US$ 2,9 bilhões, um crescimento de 25% em relação ao resultado do ano anterior. O faturamento total do grupo somou US$ 50,6 bilhões.
Mercado novo – O Brasil não é um mercado com tradição na produção de vacinas por empresas privadas, de acordo com o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini. A maior parte dos produtos utilizados no País é importada ou produzida por laboratórios ligados ao governo, como o Instituto Butantan e o Bio-Manguinhos.
“O setor está aquecido e deve crescer no Brasil. O governo tem comprado mais vacinas e feito mais campanhas entre a população”, diz Mussolini. A estimativa dele é que entre 85% e 90% das vendas de vacinas no País são feitas para o Ministério da Saúde. Até setembro de 2011, foram aplicadas mais de 61 milhões de doses de vacinas no Brasil, segundo dados do Datasus.
Para o Sindusfarma, as grandes farmacêuticas devem elevar a importação de vacinas, mas poucas devem decidir produzir no Brasil. “Não tivemos grandes investimentos neste setor no passado e a indústria se concentrou em outros países. O comum é produzir em um laboratório e exportar para o resto do mundo”, afirma Mussolini. Hoje, os principais polos de produção de vacinas são Itália, Inglaterra, Índia e Estados Unidos.
Fonte: O Estado de S. Paulo