Levantamento cita 18 tipos de tumor que somam 85% dos casos da doença; entre os homens, o mais comum será o de próstata; as mulheres sofrerão mais com o de mama; sete novos tipos entram na lista, entre eles os que vitimaram Lula e Gianecchini
Nos próximos dois anos, pouco mais de 1 milhão de brasileiros receberão o diagnóstico de câncer. Os homens sofrerão, principalmente, de tumores de próstata, traqueia, brônquio e pulmão e cólon e reto. As mulheres serão afetadas pelos cânceres de mama, colo de útero e cólon e reto. Os dados estão na Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no Brasil, divulgada ontem pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), que também vale para 2013.
Esses números excluem o câncer de pele não melanoma, que é o mais comum, mas de baixa letalidade. Dos 100 tipos de câncer conhecidos, a publicação lista 18, responsáveis por 85% dos 518.510 casos estimados para o próximo ano. Dos casos novos, 49,2% atingirão mulheres e 50,8%, homens. O câncer infantil, em pacientes com até 19 anos, responde por 3% dos casos – cerca de 15.555 registros anuais.
“O câncer é a segunda causa de morte no País, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Em 2009, matou 172 mil pessoas. Ao fazer essa estimativa, com detalhamento por Estado, o Inca contribui para organizar as ações de saúde”, afirma Cláudio Noronha, coordenador-geral de Ações Estratégicas da entidade.
Para preparar a estimativa, foram revisados 30 milhões de prontuários médicos de hospitais públicos e particulares, laboratórios de anatomia e patologia dos últimos cinco anos.
A publicação inclui sete novas localizações de tumores: bexiga, ovário, tireoide, sistema nervoso central, corpo do útero, laringe (apenas nos homens, pois para as mulheres não está entre os tipos mais comuns) e linfoma não Hodgkin. Antes, o levantamento só apontava 11 localizações diferentes.
Tabagismo – Apesar de o número de fumantes ter sido reduzido à metade nos últimos 20 anos no País, o tabagismo ainda é a causa de 95% dos casos de câncer de laringe, como o desenvolvido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A fumaça de cachimbos e cigarros tem 60 substâncias com poder carcinogênico comprovado”, explica o Fernando Dias, chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Inca.
O tumor de tireoide aparece em quarto lugar nas causas de câncer entre as mulheres. A responsável pelo Serviço de Endocrinologia do Inca, Rossana Corbo Ramalho de Melo, ressalta que fatores como maior contato com substâncias químicas, a ingestão de anticoncepcionais (o câncer de tireoide tem receptor de estrogênio) e maior consumo de iodo favorecem o aparecimento desse tipo de tumor.
Diferenças – A publicação do Inca ressalta diferenças regionais. No Sul, por exemplo, o câncer de traqueia, brônquio e pulmão aparece como a terceira causa entre mulheres, população em que o tabagismo é mais forte. A vida sexual precoce e a maior dificuldade de acesso de serviço de saúde explica o fato de o câncer de colo do útero assumir a liderança das causas de tumor entre as mulheres da Região Norte.
Doença de Dilma e Gianecchini entra na estimativa
O linfoma não Hodgkin, doença que acometeu a presidente Dilma Rousseff e para a qual o ator Reynaldo Gianecchini está sendo tratado, aparece pela primeira vez nas estimativas do Instituto Nacional do Câncer. O cálculo é de que serão registrados 9.640novos casos ao ano em 2012 e em 2013.
“O linfoma entra pela primeira vez nas estimativas pela sua magnitude; teve uma incidência acima das leucemias, tanto em homens quanto em mulheres”, afirma o coordenador-geral de Assuntos Estratégicos do Inca, Claudio Noronha.
Ele afirma que o aumento do número de casos desse tipo de câncer esteja relacionado ao acesso maior ao diagnóstico.
Entre os exames para a detecção do linfoma não Hodgkin estão a biópsia (retirada de pequena porção de tecido, em geral gânglios, para análise em laboratório), punção lombar, tomografia computadorizada e ressonância magnética.
O linfoma não Hodgkin é um câncer do sistema linfático e tem mais de 20 subtipos diferentes catalogados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os primeiros sintomas incluem o aumento de gânglios – popularmente conhecidos como nódulos ou ínguas -, que ficam palpáveis no pescoço, axilas e virilha, febre persistente por mais de 15 dias (mesmo que não ocorra diariamente) e perda de mais de 10% do peso. Também pode ocorrer sudorese noturna excessiva e coceira na pele.
Tratamento – O tratamento varia de acordo com o subtipo da doença – radioterapia, quimioterapia, autotransplante de medula óssea.
“O linfoma é mais incidente na população idosa. O envelhecimento da população corrobora o surgimento da doença”, explica o hematologista Garles Matias Vieira, médico do Hospital A.C. Camargo.
“Também existem outros fatores. O uso de terapias imunossupressoras para o tratamento de doenças autoimunes, como artrite reumatoide e doença de Crohn, ou para evitar a rejeição de órgão transplantado favorece o surgimento do linfoma”, afirma Vieira.
Fonte: O Estado de S. Paulo