Em um momento em que a UnitedHealth, líder do mercado americano de planos de saúde, anuncia projeções de lucro para 2013 abaixo das previsões do mercado, a compra da Amil passa a ser vista por executivos da empresa como a grande oportunidade para a continuidade de crescimento a um ritmo acelerado nos próximos anos. As expectativas são de que o mercado de trabalho nos Estados Unidos continue sem oferecer taxas de expansão significativas.
A compra da Amil foi feita no início de outubro e já foi aprovada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A oportunidade na América Latina é similar à oportunidade que tivemos nos Estados Unidos há 20 anos. Esperamos que os mercados brasileiro e latino-americano tenham um crescimento ainda mais rápido do que o americano, disse ontem o vice-presidente-executivo da UnitedHealth, David Wichmann, em reunião anual com investidores e analistas, em Nova York.
Após três anos de conversas, a Amil fechou há pouco mais de um mês a venda de 90% do seu capital à UnitedHealth. O negócio foi avaliado em R$ 9,8 bilhões. Trata-se da maior transação já fechada na área da saúde no Brasil e marcou a entrada da gigante americana no mercado brasileiro. Desse montante, cerca de R$ 6,5 bilhões foram divididos em partes iguais pelo fundador da Amil, Edson Bueno, e sua ex-esposa Dulce Pugliese. Bueno e Dulce, que detinham até então 70% da companhia, ficam com 10% do capital por pelo menos cinco anos.
Para o próximo ano, a sensação é de que os Estados Unidos permanecerão com um clima fraco para negócios; a criação de novos empregos deve ser lenta e haverá certa relutância por parte das empresas em oferecer seguro de saúde aos trabalhadores.
Dessa forma, o Brasil pode ser considerado, segundo o executivo, como a melhor oportunidade recentemente vista no setor de planos de saúde, principalmente devido às estatísticas do país. Estas mostram baixa penetração de assistência médica gerenciada e acelerado crescimento da classe média. Um país que teve o crescimento do PIB per capita próximo a 15% ao ano pelos últimos 10 anos, com os gastos com planos de saúde indo para uma taxa em torno de 20%, disse Wichmann.
Ele lembrou da ineficiência da estrutura dos planos de saúde no país. O número de operadoras de plano de saúde e dentários no mercado brasileiro é cerca de quatro vezes maior do que o existente nos EUA. Nossa posição aqui pode render uma base ainda maior de crescimento, disse Wichmann.
Apesar do ritmo lento da economia americana, a United considera que o projeto de reforma do setor de saúde do presidente Barack Obama (Affordable Care Act, apelidado de Obamacare), poderá trazer grande oportunidade de negócios, disse ontem o presidente da UnitedHealth, Stephen Hemsley. Obama está tentando modificar a lei existente, aprovada em 2010.
A expectativa é de que o Obamacare gere benefícios subsidiados pelo governo para algo entre 15 e 18 milhões de americanos a partir de 2014, segundo Hemsley. A United projeta para 2013 lucro por ação entre US$ 5,25 e US$ 5,50, com receita de US$ 123 bilhões a US$ 124 bilhões. Analistas consultados pela Thomson Reuters estimavam US$ 5,58 e US$ 119,12 bilhões, respectivamente.
Para Jonathan Gruber, ex-consultor do setor de saúde do governo Obama e que ajudou a montar o Obamacare, a nova lei fará com que o setor privado saia ganhando. Primeiro: haverá mais americanos, clientes das seguradoras, pagando taxas mais elevadas e pagando suas contas, ao contrário do que vem acontecendo com os clientes não segurados, que muitas vezes não pagam suas contas.
O sistema americano é quase exatamente 50% privado e 50% público, então é preciso haver um papel para ambos na continuidade da reforma da lei. Acredito que ela tenta balancear isso. Por exemplo, no crescimento de cobertura de seguro, cerca de 50% vem via Medicaid, que é o programa público, e 50% vem por via privada, expandindo as seguradoras privadas disse Gruber, recentemente.
Fonte: Valor Econômico