Um mês após o início das operações da Polícia Militar na região da cracolândia, no centro de São Paulo, o mínimo a dizer é que o fundamental ainda está por ser feito. Seu resultado mais visível foi espalhar para bairros vizinhos parte dos dependentes do crack.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, do início da ação até 2 de fevereiro realizaram-se 186 internações de usuários de drogas para tratamento. A estatística não apresenta variação tão grande se comparada a períodos anteriores, tendo em vista o porte da operação.
De julho de 2009 até agora, foram 3.000 os internados. Equivalem à média de pouco menos de uma centena de internações mensais.
De todos os lados, o processo em curso na cracolândia prestou-se à exploração política. Setores de oposição ao governo do Estado e à Prefeitura de São Paulo insistiram na tecla de que prevaleceu uma visão “higienista” do problema.
O cronograma da operação, iniciada antes mesmo da inauguração prevista de um centro para acolhimento dos dependentes, sem dúvida deu algum fundamento a tais críticas. Entretanto, o difícil trabalho de abordagem dos drogados para tratamento não teve, segundo as mesmas estatísticas acima, todos os percalços previstos pelos opositores da operação.
Episódios de violência policial contribuíram para aumentar a voltagem das críticas; mas tudo indica que, sob vigilância constante da opinião pública, esse rumo pode ser – e vem sendo – corrigido.
Prefeitura e governo estadual engajaram-se, de todo modo, numa aposta política de alto risco. Existe na população, como revelou pesquisa Datafolha, a expectativa de uma solução rápida para o problema, de extrema complexidade. Daí os anúncios de que “a cracolândia não existe mais”, como o da Secretaria de Justiça do Estado, que só resultam em descrédito.
A ambiguidade da investida se faz notar na mencionada pesquisa de opinião pública. Mesmo apoiando, por larga maioria, a atuação da polícia no local, a população acredita que os dependentes irão apenas espalhar-se pela cidade.
Seja como for, as preocupações com o problema do crack deixaram de confinar-se a um grupo reduzido de cidadãos. Passaram ao debate público e amplo – com direta relevância nas eleições municipais.
Que seja este um estímulo, ao menos, para que programas sociais e de atendimento de longo prazo sejam postos em prática, paralelamente a uma efetiva presença policial onde se fizer necessária.
Fonte: Folha de S. Paulo