O setor de saúde continua atraindo a atenção dos investidores interessados em aproveitar o esperado crescimento da economia doméstica nos próximos anos. Dentre as companhias de pequeno porte, um dos destaques é a Qualicorp, cujas ações acumulavam ganho de 29% no ano, até a última segunda-feira. No mesmo intervalo, o Índice Bovespa (Ibovespa) recuava 0,5%.
Os papéis da empresa tiveram uma desvalorização brusca na semana passada – chegando a registrar queda de 4% somente no dia 13 -, mas os analistas do Deutsche Bank avaliam que o movimento não preocupa. Deve ter sido consequência da antecipação [e da sobrevalorização do impacto] dos resultados trimestrais [no preço da ação]. Parte dessa queda, inclusive, já foi recuperada.
O balanço da Qualicorp relativo ao terceiro trimestre deste ano veio em linha com as expectativas do mercado. O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ficou em R$ 91 milhões, muito próximo das prévias divulgadas pelos analistas do Deutsche, Santander e Safra. Inicialmente, vemos os resultados como ligeiramente neutros e não esperamos que [a cotação das ações da] Qualicorp se mova muito a partir deles, escrevem os especialistas do banco alemão em relatório do dia 13.
Na comparação com as outras companhias abertas do setor de saúde, a Qualicorp traz alguns diferenciais, relativos à dinâmica dos negócios. A empresa atua na administração, gestão e vendas de planos de saúde coletivos, empresariais e coletivos por adesão. Por não ser uma operadora igual a seus pares, a companhia não incorre em riscos atuariais, de inflação médica ou inovação tecnológica, explicam os especialistas. Para os especialistas do Santander, trata-se de uma companhia com uma base reduzida de ativos; forte geração de caixa (melhor que a maior parte dos pares listados no mercado de saúde do Brasil); margens elevadas, sem risco atuarial. Eles citam ainda vantagens competitivas como capacidade de escala, relacionamento com mais de 400 associações profissionais – que respondem por 89% de sua receita – e expertise em TI.
Uma das ressalvas em relação ao papel fica por conta dos poucos negócios em bolsa. Em 2012, o volume financeiro médio diário foi de R$ 11,5 milhões. Perde para a Amil, para a Dasa e para a Odontoprev, ficando à frente da Tempo Assist e do Fleury, ainda inexpressivos em termos de giro e também de valor de mercado. Neste ano, a ação da Dasa tem movimentado diariamente R$ 31,2 milhões, em média.
Um dos indicadores mais usados no mercado, o P/L (Preço/Lucro), sugere que os papéis estariam caros. Um levantamento da corretora Coinvalores, concluído na última quarta-feira, mostra que o múltiplo está em 48,7 vezes. Isso reflete o número de anos que se levaria para reaver o capital aplicado no ativo.
Alguns avaliam, porém, que o patamar atual de preço da Qualicorp, não deve necessariamente afastar os aplicadores. Como escreveu André Rocha, autor do blog O Estrategista no portal Valor, a tese de investimento da empresa se enquadra na estratégia de apostar em companhias com perspectivas de crescimento acima da média. Rocha explica que esse tipo de investidor aceita comprar ações de empresas com múltiplos elevados acreditando em ganhos expressivos lá na frente. O incremento dos resultados futuros é chave para o bom desempenho das ações, diz ele.
Tendo em vista o horizonte de médio prazo, o especialista em análise gráfica Dalton Vieira consegue vislumbrar um cenário positivo. Segundo o analista parceiro do Investmania, a tendência para os próximos meses sinaliza a valorização do ativo. Há alguns elementos importantes na construção do cenário positivo, diz ele. No dia 7 de novembro, a cotação do papel rompeu o patamar de alta e superou a marca de R$ 21,32 depois de quase três semanas de valorizações consecutivas. Ao longo de toda a semana passada, o movimento de queda não foi, segundo ele, suficiente para afetar a perspectiva de ganho para os próximos três meses.
A ação está em um ponto que pode gerar um novo rompimento do topo [com um ganho significativo para o histórico da empresa] ou uma oportunidade de compra [caso aconteça uma desvalorização], afirma. Ele sugere duas estratégias distintas em um cenário que tem R$ 20,81 como patamar mínimo e R$ 22,56 como nível máximo. Na primeira hipótese, o investidor esperaria a ação cair até um valor próximo a R$ 20 e compraria. Ao chegar nesse ponto, os gráficos indicam que a cotação deve voltar a subir. Na segunda estratégia, o aplicador observaria o comportamento do papel nesta e na próxima semana. Se nesse período a ação se mantiver dentro do intervalo atual de mínima e máxima, explica Vieira, o investidor deveria apostar em um novo recorde histórico e comprar o papel a partir dos R$ 22,57.
O otimismo com o ativo é compartilhado por outros especialistas. Segundo os dados compilados pela Bloomberg, a ação da Qualicorp conta com nove recomendações de compra, uma de manutenção e uma de venda.
Fonte: Valor Econômico