Nos EUA, especialistas sugerem que FDA libere uso de antirretroviral para pessoas saudáveis para reduzir as infecções pelo vírus HIV
Uma comissão ligada ao FDA, agência que regula a venda de medicamentos nos EUA, recomendou a liberação de uma droga para prevenir a infecção pelo HIV. Dessa forma, pessoas não contaminadas poderiam manter relações com portadores do HIV com um risco menor de contrair o vírus.
De acordo com testes realizados internacionalmente, pessoas que tomam a medicação Truvada diariamente têm uma possibilidade 90% menor de contágio pelo HIV. Esse remédio já é usado no tratamento de pessoas portadoras do vírus.
Há relatos de que médicos nos EUA e em outros países já receitam o remédio para parceiros de portadores, diz o jornal The Washington Post. Contudo, se a droga for aprovada pelo FDA, a empresa fabricante – a Gilead Sciences – poderá fazer propaganda do uso preventivo.
A recomendação da comissão do FDA prevê que o Truvada seja utilizado por pessoas com um parceiro que tenha o vírus. Também há a sugestão para que homossexuais ou bissexuais a utilizem, assim como quem suspeitar do risco depois de manter relações heterossexuais.
A decisão sobre a aprovação do Truvada nos Estados Unidos para a prevenção de infecção pelo HIV deve ser tomada nos próximos meses. O FDA costuma seguir a recomendação da comissão. Médicos alertavam, porém, que o Truvada não pode ser considerado uma vacina contra a aids e deve ser tomado apenas depois de aprovado pelo FDA e com prescrição médica.
Votos – Participaram da votação 22 especialistas independentes. Na discussão sobre o uso do medicamento por homossexuais que não são portadores do HIV, 19 especialistas votaram a favor e 3 foram contrários ao uso da droga, resultado semelhante ao da discussão sobre o uso do remédio por casais em que um dos parceiros não possui o vírus – com uma diferença: um dos votos contrários tornou-se uma abstenção. Contudo, a unanimidade diminuiu quando se discutiu o uso do Truvada pelos demais grupos: houve 8 votos contrários e 2 abstenções.
Para o presidente da ONG Pela Vidda e especialista em saúde pública, Mário Scheffer, o parecer da comissão comprova o impacto social dos antirretrovirais.
De fato, quando uma pessoa que vive com o HIV recorre à terapia e diminui sua carga viral, a chance de transmissão torna-se muito menor. O uso da terapia por pessoas que foram expostas ao vírus para evitar o contágio também já foi incorporado aos serviços de saúde pública de vários países, até mesmo do Brasil.
“Agora, será a vez da terapia anterior à exposição ao vírus”, afirma Scheffer, sublinhando, no entanto, que ela não deverá ser uma alternativa universal, mas apenas para grupos restritos que estão muito expostos ao vírus e são refratários a outras formas de prevenção. “São medicamentos complexos e com efeitos adversos. Não devemos banalizar”, aponta.
Fonte: O Estado de S. Paulo