A grave crise econômica, política e ética por que passa o nosso país traz a tona questões emergenciais como emprego, renda, crescimento econômico e violência urbana. A recente discussão da reforma previdenciária levantou novamente o tema do envelhecimento da população e o futuro dos brasileiros.
Neste contexto, a saúde tem se inserida em olhares focados na solução de problemas urgentes, como a falta de atendimento nos hospitais e prontos-socorros, a fila para realizar exames complementares, o sucateamento dos serviços municipais e estaduais e a redução do número de beneficiários da saúde suplementar.
Com isso, perde-se a oportunidade da discussão de medidas estruturantes e sustentáveis para a saúde. O Instituto Coalizão Saúde contratou a consultoria McKinsey para realizar um diagnóstico da saúde em nosso país, utilizando dados secundários disponíveis, mas, principalmente, ouvindo os principais atores do sistema de saúde e realizou dois workshops com as lideranças do setor. Esta iniciativa é bastante importante com elevado potencial de avanço na agenda da saúde. Este grupo elegeu cinco prioridades, ou pontos de ataque, a saber:
Integração de dados
Modelos de pagamento
Atenção primária
Inovação em saúde
Comunicação
As conclusões serão publicadas em um documento chamado “Coalizão Saúde Brasil – uma agenda para transformar o Sistema de Saúde” a ser discutido com diferentes setores do governo e da sociedade.
Trata-se de uma iniciativa muito importante, pois foi possível construir uma pauta de consenso de atores que apresentam interesses frequentemente distintos ou conflitantes no setor saúde. Os temas selecionados são muito relevantes e podem contribuir para melhorar os resultados obtidos com os recursos investidos na saúde em nosso país.
Sem dúvida, os desafios são imensos. A agenda construída por agentes da indústria da saúde terá que ser validada com outros stakeholders, particularmente os empregadores que financiam boa parte da saúde suplementar no Brasil e que demandam uma integração com a área ocupacional, como tem acontecido em outras partes do mundo. Este tema ainda não foi contemplado na agenda proposta.
Os determinantes sociais de saúde assumem uma importância cada vez maior e sabemos, hoje, que o nível de saúde das pessoas não depende apenas do grau de atenção à saúde (proporcionada pelos profissionais, hospitais, acesso a exames, medicamentos, tratamentos, etc), mas principalmente de como, onde e com quem vivemos. O renomado epidemiologista Michael Marmot em seu mais recente livro “The Health Gap” demonstra que tudo começa na infância, onde as mães mais pobres apresentam mais depressão influenciando a interação social e o desenvolvimento das crianças. Em seguida, demonstrou que a educação tem grande impacto sobre a saúde e, finalmente, o mundo do trabalho em que as pessoas têm altas demandas com baixo controle, muito esforço com poucas recompensas, aumentando o risco de doenças crônicas. A recente pesquisa “Global Burden of Disease” mostrou que no Brasil, as causas externas (violência urbana e no trânsito), as condições musculoesqueléticas, mentais e emocionais são os fatores que trazem maior impacto à saúde de nossa população adulta. E a melhoria de tais fatores, certamente depende de outros setores e esforços que vão além do setor saúde.
Além disso, há o trabalho espinhoso de discutir uma agenda proposto por um grupo composto prioritariamente pelo setor privado com as lideranças do SUS, em geral bastante reticentes, por vários motivos, inclusive ideológicos, às propostas que emanam deste setor.
Enfim, trata-se de uma iniciativa que não se limitou a eventos, seminários ou discussões estéreis, mas oferece uma agenda propositiva, baseada em um estudo denso e consistente e elaborada através de consenso com um grupo bastante representativo. Vale a pena acompanhar. Mais detalhes em www.icos.org.br