São Paulo registrou, nesta terça-feira, o segundo caso de transmissão do zika vírus através de uma transfusão de sangue. A doação ocorreu em Campinas, no início de 2015, em um paciente gravemente ferido. Ele estava internado no Hospital das Clínicas e não resistiu, mas, tanto o Ministério da Saúde como o Hemocentro da Unicamp confirmaram que o homem morreu em consequência dos ferimentos que tinha, por arma de fogo.
O diretor da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro da Unicamp, Marcelo Addas Carvalho, explicou que o homem recebeu mais de 100 bolsas de sangue no período em que ele ficou internado, entre fevereiro e maio. Em abril, foi identificada uma queda de plaqueta. Encaminhou-se então uma amostra de seu sangue para o instituto Adolfo Lutz. A suspeita era de que ele estava com dengue.
— O teste deu negativo, mas o Adolfo Lutz, nos casos negativos para dengue, e com suspeita química de arbovirose (infecção viral por arbovírus, como zika e chikungunya), prossegue na investigação de acompanhamento epidemiológico — descreve Marcelo.
A confirmação de zika chegou para o Hemocentro em dezembro. Como o paciente ficou internado na UTI, a possibilidade de transmissão por mosquito foi reduzida, segundo Marcelo. Com isso, foi feito um rastreamento das bolsas de sangue utilizadas no atendimento deste paciente, na época em que identificaram a queda de plaqueta. Chegou-se a um doador, de 20 anos. Segundo Marcelo, só foi possível encontrar o homem porque havia amostras guardadas.
— O doador informou que, três dias após a doação, ele e pessoas de sua família tiveram quadro clínico de zika. Uma coisa interessante é que o paciente mesmo não apresentou nada — conta.
No primeiro caso, a Unicamp notificou a contaminação por transfusão em maio. O homem infectado, morador de Sumaré, havia doado sangue no Hemocentro de Campinas alguns dias antes de apresentar os sintomas. Ele teve a iniciativa de ligar para o local para informar que estava com dengue. O hemocentro desencadeou então o processo de investigação da notificação, enviando a amostra de sangue desse doador para o Adolfo Lutz. O paciente receptor não desenvolveu a doença, nem apresentou sintomas. Os dois ficaram bem.
Segundo a secretaria Municipal de Saúde de Campinas, há seis casos de zika na cidade em investigação. Dezenove foram descartados.
TESTES
Após uma doação de sangue, são feitos testes para doenças de Chagas, sífilis, hepatites B e C e HIV. Dengue, zika e chikungunya não entram na lista. A orientação agora é que os doadores fiquem atentos quanto aos sintomas.
— O risco de transmissão por transfusão dessas doenças (as que estão na listagem) é muito alto. Já o risco maior de se pegar dengue e essas outras doenças é realmente pela picada do mosquito Aedes aegypti — frisa Marcelo: — Todo investimento em termos de segurança de saúde pública precisa ser feito em controle dos vetores e tratamento dos pacientes — continua.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que a capacidade de infecção do vírus por transmissão sanguínea deve ser avaliada, além dos procedimentos de hemovigilância que devem ser adotados conforme novas descobertas. O órgão informa ainda que reforçou orientação aos hemocentros para que não deixem de realizar a triagem clínica (quando os candidatos apontam em questionário da doação a ocorrência de sintomas de doenças infecciosas), com atenção também aos sintomas de dengue, zika e chikungunya.