Negócios no setor de hospitais podem movimentar R$ 5 bilhões em dois anos

Capital estrangeiro é a principal aposta

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Apesar da crise, o interesse pelo setor de hospitais no Brasil não diminuiu. A expectativa do mercado é que fusões e aquisições neste segmento movimentem cerca de R$ 5 bilhões em 2017 e 2018. Tanto companhias já tradicionais da área de saúde quanto grandes fundos de investimento se preparam para ir às compras. Entre os que analisam ativos atualmente estão a empresa de plano de saúde Amil, a rede de hospitais de alto padrão D’Or, a estatal chinesa Fosun e fundos como Advent e General Atlantic.

O foco desses investidores são hospitais localizados em grandes capitais, segundo apurou o Estado. Segundo fontes, entre os ativos mais cobiçados estão o Hospital Bandeirantes/ Leforte, de São Paulo; o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também da capital paulista; o Hospital Aliança, de Salvador; o Mater Dei, de Belo Horizonte; e o Moinhos de Vento, de Porto Alegre.

Pulverizado, o setor tem hoje 3,6 mil hospitais privados (inclui filantrópicos) no País. O movimento de concentração é relativamente recente e ganhou força no início de 2015, após aprovação de medida provisória que permitiu a entrada de capital estrangeiro no setor.

Nos meses que se seguiram à aprovação da nova regra, os fundos GIC (de Cingapura) e Carlyle (dos EUA) compraram fatias na rede D’Or. No fim de 2015, quando enfrentava uma crise aguda, o BTG vendeu a fatia que ainda detinha do negócio ao fundo de Cingapura.

A MP também estimulou hospitais filantrópicos, como Samaritano e Bandeirantes, a modificarem sua natureza jurídica para poderem receber investimentos privados. O Samaritano foi adquirido pela Amil em novembro do ano passado, por R$ 1,3 bilhão. Os hospitais filantrópicos, que não têm fim lucrativo, têm benefícios fiscais.

Assédio. O interesse de investidores locais e estrangeiros por hospitais nacionais é confirmado por Francisco Balestrin, presidente do conselho da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Ele observa, contudo, que não faz sentido um investidor comprar apenas um ativo no setor. “Quem quer se tornar competitivo, tem de adquirir uma série de hospitais que possa formar uma rede”, disse Balestrin.

Fontes afirmaram ao Estado que os fundos de private equity (que compram participações em empresas) Advent e General Atlantic têm interesse em adquirir grandes redes, sobretudo em São Paulo. “Esses fundos, junto com investidores estratégicos, como Amil e D’Or, devem tornar o processo de compra das redes bem competitivos”, disse uma fonte do mercado financeiro.

A rede Aliança, da Bahia, por exemplo, estaria no radar do D’Or e de outros investidores, como a chinesa Fosun. “O Fosun comprou em 2014 os ativos de saúde da família portuguesa Espírito Santo (ex-Portugal Telecom) e busca oportunidade nesse setor no País”, disse uma pessoa a par do assunto. O D’Or também está ativo nas aquisições: fechou, em novembro, a compra da Clínica São Vicente, que também fica no Rio.

O Pátria, controlador da rede de diagnóstico Alliar e da farmacêutica Natulab, teria olhado redes de hospitais do Nordeste, segundo fontes. Uma pessoa próxima ao fundo nega que o Pátria tenha feito ofertas por hospitais no Nordeste, mas afirmou que a gestora tem interesse no setor de saúde.

Preço. O apetite pelo setor de saúde faz o múltiplo em relação ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) a ser pago pelos hospitais ser relativamente alto. Segundo uma fonte, a média gira em torno de 12 a 14 vezes o indicador. “O mercado está em ebulição, há vários ativos à venda, de Fusca a Ferrari. Quem quiser levar a Ferrari vai ter de pagar mais caro”, definiu uma fonte.

Do lado dos compradores, a equação também nem sempre é simples. O empresário Edson Bueno é controlador da rede de laboratórios Dasa e tem intenção de expandir seus negócios, segundo fontes. No entanto, há um complicador: ele é minoritário na Amil, empresa que fundou e hoje é controlada pela americana United Health. Antes de comprar um ativo, ele tem de oferecer a oportunidade ao sócio americano.

Retornos. Assediado por fundos, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz disse que o grupo não está interessado em vender o seu controle. O presidente do grupo, Paulo Bastian, admitiu, porém, ter sido procurado por fundos. “Investimos R$ 140 milhões para inaugurar um hospital (na Liberdade, em São Paulo) no início de 2017. Até 2020, serão investidos R$ 650 milhões em expansão”, disse.

Procuradas, fontes próximas ao Advent e do General Atlantic informaram que os fundos têm interesse em hospitais, mas não têm acordo de exclusividade no momento. O Hospital Aliança informou que não está à venda. Amil e Rede D’Or não quiseram comentar. O Moinho de Ventos confirmou o assédio, mas disse que não está à venda. Os hospitais Bandeirantes e Leforte informaram que não têm previsão de entrada de novos investidores. Fosun e o Mater Dei não retornaram os contatos.

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