O Hospital das Clínicas de São Paulo está realizando uma cirurgia inédita no SUS para tratar a hérnia de disco na coluna lombar de forma menos invasiva. O paciente recebe alta no mesmo dia.
No Brasil, cerca de 300 mil pessoas são operadas todos os anos para tratar a hérnia de disco. O problema ocorre quando parte dos discos –estruturas que evitam o atrito entre uma vértebra e outra– sai da posição normal e comprime os nervos próximos, causando dor.
A técnica cirúrgica mais utilizada ainda é a tradicional, que envolve internação, anestesia geral e um corte de três a quatro centímetros na coluna. O paciente leva de três a quatro meses para retomar suas atividades.
A cirurgia que o HC começou a fazer é a endoscópica, que, realizada por meio de incisão de 8 mm, pela qual passam os instrumentos usados na retirada do disco lesionado, dura 30 minutos.
O procedimento já é oferecido na rede privada, custa em torno de R$ 20 mil e tem algumas vantagens em relação à cirurgia convencional, como a possibilidade de usar anestesia local e sedação.
A recuperação também é mais rápida. O paciente é liberado para retornar às atividades em até 15 dias, segundo o ortopedista Alexandre Fogaça, professor do departamento de ortopedia da Faculdade de Medicina da USP.
“Só levei dois pontos na coluna. Em 11 dias já tinha retomado as atividades sem nenhuma dor”, conta Denis Garcia, 32, que fez a cirurgia no HC em novembro último.
Antes, ele passou quase um ano com fortes dores na perna. A hérnia de disco havia “pinçado” um nervo, o que causou perda de força muscular. “Não conseguia mais dirigir, ficar em filas. A única posição boa para ficar era deitado.”
Segundo Fogaça, outra vantagem da cirurgia endoscópica é o fato de usar um afastador que não lesiona tanto os músculos na hora de acessar o disco a ser operado.
LIMITAÇÕES
Os resultados, como alívio da dor, são semelhantes nos dois tipos de cirurgia, segundo um estudo feito no HC com 40 pacientes. Mas a técnica endoscópica tem limitações. Não pode ser usada, por exemplo, para tratar problemas causados por traumas graves ou danos que afetam áreas extensas da coluna.
Segundo o fisiatra João Amadera, do centro de coluna do HCor (Hospital do Coração), menos de 5% das hérnias de disco precisam de cirurgia. No HCor, só 1,7% dos pacientes operam. “Ainda há muita indicação de cirurgia sem necessidade. Só a dor não é indicativo para operar.”
Ele explica que a cirurgia, seja lá qual for a técnica, é recomendada a um grupo restrito de pacientes que não responderam a tratamentos com remédios e fisioterapia ou estão perdendo força muscular.
Para Fogaça, isso depende do perfil de pacientes. No HC, por exemplo, até 10% deles têm indicação cirúrgica porque chegam com perda da força e da sensibilidade.