Elaborar um kit de exames que poderá predizer se a mulher terá um parto prematuro e testar se comprimidos de magnésio podem prevenir a pré-eclâmpsia são as missões de 2 entre os 12 projetos que integram uma força-tarefa internacional em busca de soluções inovadoras para diminuir a alta taxa de nascimentos prematuros no Brasil.
Hoje, essa taxa é de 11,7%, em média. O índice é 60% superior ao da Inglaterra.
A prematuridade é a principal causa de morte de bebês com até sete dias de vida. Em números absolutos, foram 20.779 mortes em 2011 (últimos dados consolidados pelo Ministério da Saúde).
Cesarianas marcadas antes do tempo podem levar à prematuridade, mas, em geral, muitas das mortes de prematuros estão associadas a doenças maternas, como infecções urinárias, hipertensão e diabetes.
Segundo Jorge Barreto, diretor interino do Departamento de Ciência e Tecnologia do ministério, estudos mostram que 60% das mortes poderiam ser evitadas por ações nos sistemas de saúde.
É nesse cenário que os 12 projetos atuarão. As pesquisas serão desenvolvidas em cinco Estados por dois anos, com financiamento de R$ 8,4 milhões, do Ministério da Saúde e da Fundação Bill & Melinda Gates.
“A expectativa é que esses projetos produzam novas ferramentas que possam ajudar na redução do nascimento prematuro no Brasil. E que possamos aplicar as lições aprendidas em outros países”, afirma Steven Buchsbaum, da Fundação Gates.
Vários dos estudos serão feitos pela primeira vez no mundo. É o caso do projeto da Unicamp, que investigará biomarcadores da mãe e tentará criar um conjunto de exames capaz de identificar o problema para preveni-lo.
“Hoje, o único indicador é a ocorrência de um parto prematuro anterior”, diz o médico José Guilherme Cecatti, pesquisador da Unicamp.
Outro tratamento também da Unicamp é uma associação do hormônio progesterona e do pessário, anel de silicone inserido na vagina, para prolongar a gravidez de risco.
Segundo Rodolfo de Carvalho Pacagnella, a pesquisa medirá o colo do útero por meio de ultrassom transvaginal de 30 mil mulheres grávidas em 15 centros de referência de atendimento obstétrico. Um grupo de mulheres receberá só progesterona, e o outro, as duas intervenções.
A pesquisa também vai apontar se vale a pena medir o colo de útero no pré-natal, o que não ocorre hoje.
Dois estudos avaliarão drogas para prevenir a eclâmpsia, conhecida causa de parto prematuro e morte materna.
Os pesquisadores da Faculdade Pernambucana de Saúde vão testar os efeitos de comprimidos orais de magnésio, que custam R$ 0,17 cada. A hipótese é que seu uso na gravidez reduza em 20% o risco de um nascimento antes do tempo.
“Há dúvidas se o magnésio oral previne a pré-eclâmpsia. Usamos a forma injetável quando a mulher já tem o problema. Precisamos de estudos mais elucidativos”, diz o pesquisador João Guilherme Alves.
Uma outra equipe, do Centrus Diagnóstico por Imagem, em Campinas, investigará se o uso de baixa dose de aspirina no primeiro trimestre da gestação pode prevenir a pré-eclâmpsia.