Por mais solidário e humanitário que possa parecer, um profissional de saúde brasileiro que queira atuar por conta própria em um dos três países africanos vítimas do surto de Ebola pode atrapalhar a missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em conter a epidemia. Esta foi uma das principais recomendações do Ministro da Saúde, Arthur Chioro, em entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira, 8, em Brasília. “Profissionais de saúde não devem participar de missões que não sejam oficiais”, orientou. Segundo ele, agindo por conta própria o profissional pode se expor a riscos de contaminação e posterior transmissão, por não possuir equipamentos adequados de proteção, por exemplo.
Após o anúncio de que o Ebola é uma emergência de saúde pública de importância internacional, feito ontem pela OMS, o Ministério da Saúde brasileiro convocou coletiva para orientar a população. Anunciou medidas como o envio de 15 toneladas de kits de medicamentos e materiais médicos à Libéria, Serra Leoa e Guiné, bem como a doação de R$ 1 milhão à OMS para ajudar na contenção da doença. Para Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, o mais importante neste caso é conter o surto na região, evitando que ele se espalhe para países vizinhos. Ele reforçou as características de transmissão da doença, que funciona via sangue e secreções, e nunca via aérea, e o fato de que o Ebola começa a ser transmitido apenas quando há o surgimento dos sintomas. “Que são abruptos e agressivos”, disse.
A falta de condições adequadas de assistência está relacionada, segundo Barbosa, com a transmissão atual do vírus e com a alta taxa de mortalidade. Embora seja um vírus muito perigoso, a assistência hospitalar faz a diferença para aumentar as chances de sobrevivência, segundo ele.
No Brasil, os aeroportos aumentarão a vigilância em relação a casos suspeitos, embora o Ministro da Saúde considere a possibilidade de um caso chegar ao Brasil bastante remota. Também iniciará, a partir de amanhã, avisos sonoros destinados a viajantes internacionais, para que prestem atenção a sintomas como febre repentina, dores de cabeça, vômitos e hemorragias. Os anúncios não citarão o nome Ebola, para não causar inquietação.
Para Jarbas Barbosa, existem duas possibilidades de o vírus surgir em território brasileiro. A primeira é a pessoa viajar no período de incubação da doença, o que não representa perigo de contaminação. O segundo caso é a pessoa adoecer em voo. Neste caso, as pessoas que tiveram contato com este doente serão encaminhadas para entrevistas e avaliação. Mas não serão colocadas em quarentena.
Segundo o Ministério da Saúde, todos os estados brasileiros possuem hospitais de referência para o encaminhamento de possíveis casos, com capacidade para isolamento e fornecimento de materiais de segurança aos profissionais de saúde que eventualmente terão de lidar com o doente, como máscara, óculos, luvas e aventais. Em São Paulo, a instituição de referência é o Emílio Ribas. O laboratório responsável para analisar os possíveis exames de confirmação do vírus é o Evandro Chagas. Caso haja um caso suspeito, o Ministério disse estar pronto para envia sua equipe, a fim de monitorar os trâmites e auxiliar no transporte de material coletado para testes, entre outros procedimentos.
O procedimento de qualquer serviço de saúde que receba um caso suspeito é notificar rapidamente as autoridades locais, que estão em contato permanente com o governo federal. Após a notificação, o paciente será encaminhado ao hospital de referência, por meio de ambulância equipada para tal. Os cuidados no atendimento devem zelar pela proteção dos profissionais de saúde, por meio de equipamentos individuais.
Quanto à desinfecção, o Ebola é um virús de fácil eliminação, embora altamente transmissível. "Basta hipoclorito de sódio, que é o que utulizamos hoje em nossos serviços de saúde", afirmou Barbosa. "O que acontece é que nas regiões que estão em surto na África, nem isso existe".
O Brasil também não anunciou nenhum tipo de restrição de viagens de brasileiros aos países afetados, e disse que o principal é evitar que pessoas infectadas saiam de lá para cá – cujo momitoramente já está sendo feito. Segundo Jarbas Barbosa, empresas brasileiras que atuam nesses países, e que possuem brasileiros por lá, já entraram em contato com o MS. A recomendação é que não tenham contato com as regiões de surto, que em sua maioria são rurais e mais isoladas. Na Nigéria – o quarto país a registrar caso da doença na África – a transmissão foi importada. "E os outros suspeitos são provenientes de pessoas que tiveram contato com o doente, um funcionário do governo que foi visitar a irmã na Libéria, pegou Ebola dela e viajou para a Nigéria em busca de atendimento", afirmou Barbosa.