O Comitê de Ética da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou, em reunião, o uso de tratamentos não homologados para lutar contra a febre hemorrágica do ebola.
"Diante das circunstâncias da epidemia e sob certas condições, o comitê concluiu que é ético oferecer tratamentos –cuja eficácia ainda não foi demonstrada, assim como os efeitos colaterais– como potencial tratamento ou de caráter preventivo", afirma a nota da OMS.
Até o momento não existe nenhum tratamento licenciado ou vacina contra o vírus ebola.
O uso do medicamento experimental ZMapp em dois americanos e um padre espanhol –que faleceu nesta terça-feira em Madri– infectados com o vírus quando trabalhavam na África provocou um intenso debate ético.
O medicamento, do qual existe pouca quantidade, parece apresentar resultados promissores nos dois americanos, embora não tenha salvado o espanhol.
A droga experimental deve ser enviada a dois médicos da Libéria depois que as autoridades dos Estados Unidos aprovaram sua exportação, segundo o governo disse na terça-feira.
A empresa americana Mapp Biopharmaceutical, que produz o medicamento, informou na segunda-feira que enviou o estoque para o oeste da África.
"É provável que o número de doses disponíveis para um estudo mais aprofundado ou para implantação no final de 2014 continuará a ser insuficiente para atender a demanda", disse o comunicado.
Em suas conclusões, os especialistas consideraram que as circunstâncias são excepcionais e que o uso de remédios que ainda estão em desenvolvimento nos laboratórios pode ser justificada, sempre e quando seguir critérios éticos.
"Surtos de ebola pode ser contidos por meio de intervenções disponíveis, como a detecção precoce e isolamento, rastreamento de contato e monitoramento, e adesão a procedimentos rigorosos de controle de infecção", disse o Comitê. "No entanto, um tratamento ou vacina seria um trunfo poderoso para combater o vírus."
EPIDEMIA
Médicos de todo o mundo participaram nos debates da OMS sobre o uso de tratamentos não homologados.
O comitê condicionou o uso dos tratamentos a uma "transparência absoluta sobre os cuidados, a um consentimento informado, à liberdade de escolha, à confidencialidade, ao respeito das pessoas e a preservação da dignidade e a implicação das comunidades".
Também estabeleceu "a obrigação moral de obter e compartilhar as informações sobre segurança e eficácia das intervenções", que devem ser objeto de avaliação constante.
A África Ocidental vive o maior surto de ebola desde que a doença foi descoberta em 1976, com a grande maioria das vítimas registradas em três países: Guiné, Libéria e Serra Leoa.
O número de mortes provocadas pelo vírus ebola superou a barreira de mil, com 1.013 óbitos e 1.848 casos registrados, segundo o balanço mais recente da OMS, divulgado nesta terça, que não conta com a morte do missionário espanhol.
Entre 7 e 9 de agosto, 11 novos casos e sete mortes foram registrados na Guiné, 45 novos casos e 29 mortes na Libéria, assim como 13 novos casos e um óbito em Serra Leoa.
Nenhum caso foi registrado no período na Nigéria, o quarto país afetado pelo vírus, embora o governo tenha anunciado na segunda que o número de casos subiu de sete para dez, com duas mortes registradas.
A nova epidemia da doença na África Ocidental levou a OMS a decretar uma emergência de saúde pública mundial.