Com os quatro tipos de vírus em circulação, cenário é o pior desde reaparecimento da doença, na década de 1980
A circulação de novo vírus, detectada em abril deste ano, elevou os riscos de epidemia e de gravidade da dengue, deixando São Paulo no cenário mais desfavorável para a doença desde o seu reaparecimento, na década 1980.
Pela primeira vez, o Estado irá iniciar a temporada crítica, em outubro, com os quatro vírus existentes circulando todos ao mesmo tempo.
Três meses após o primeiro registro, na região de São José do Rio Preto, o tipo 4 já respondia por 1,9% dos 76,8 mil casos da doença no ano.
A sua chegada complica o cenário porque quase a totalidade da população está vulnerável ao vírus. Contaminada, uma pessoa se torna imune só ao tipo que contraiu.
Ou seja, quem pegou o tipo 1, não volta a ser contaminada por ele, mas pode adoecer por conta dos outros tipos e, pior, pode ter a forma mais grave da doença, a sua versão hemorrágica. “Temos de ficar preocupados. É bom nos prepararmos para o pior”, diz o epidemiologista especialista Roberto Medronho, diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ e especialista em dengue.
Assim como São Paulo, o Rio de Janeiro também vive a expectativa de um cenário crítico em razão do tipo 4. “Certamente será a maior epidemia da história do Rio de Janeiro”, disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), na semana passada.
Estratégia
Mapa das áreas de vulnerabilidade da doença feita pelo governo paulista mostra que 44% dos municípios têm risco alto ou muito alto.
Para limitar a circulação do vírus tipo 4, a Secretaria de Estado da Saúde adotará cinco medidas. Quatro delas tiveram resultados limitados em Ribeirão Preto, município que concentra este ano 19% dos casos de São Paulo.
Entre as medidas estão o diagnóstico mais rápido em cidades prioritárias (para identificar e bloquear a propagação do vírus tipo 4).
Também estão previstos o uso de agentes da Sucen (órgão do Estado) em visitas a casas (hoje só a prefeitura faz isso) e treinamentos de médicos nos locais de trabalho.
Para Medronho, a ideia é boa, pois muitos médicos não vão aos chamados cursos de auditórios. “Deter epidemia é difícil, mas a morte, não. Nos locais que se prepararam a letalidade é baixa”, diz.
“A nossa situação se aproxima da do sudeste asiático. Os adultos vão tendo as dengues e passam a ficar imunes, mas as crianças são vulneráveis”, diz Pedro Tauil, consultor de dengue da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Para o infectologista Ivo Castelo Branco Coelho, consultor em dengue da OMS (Organização Mundial de Saúde), combater o mosquito é um trabalho bastante difícil e a solução, a curto prazo, é estruturar a rede para o diagnóstico precoce da dengue.
O Ministério da Saúde não faz previsões, mas alerta para a banalização da doença. “Como não temos modelos de previsão acertada, temos que ser pessimistas, sempre agir como se fosse o pior verão”, afirma Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde.
Fonte: Folha de S. Paulo